Se for amor

Eu te amo. Mesmo negando. Mesmo deixando você ir. Mesmo não te pedindo para ficar. Mesmo estando longe, eu te amo. E amo mesmo. (Caio Fernando Abreu)

Leio essa frase do Caio Abreu e penso sobre ela. O que é o amor. O que é a paixão.     

O recorrente tema da paixão. Porque esse “eu te amo” da frase acima é a expressão da paixão sem limites. É ser loucamente apaixonado por alguém a ponto de deixar de se amar.      

Não se amar nem se valorizar. Amar mesmo sendo abandonado. Trocado. Traído. E continuar apaixonado.     

Ver o outro ir embora sem ter chances de segurá-lo. E continuar amando.    

Ficar longe, completamente separados, mas ainda amando.     

Isso não é amor. Isso é obsessão.     

Porque amor é troca. Eu amo você e você me ama. Assim é amar.     

Não dá para amar pelos dois, não existe amor unilateral.  

Porque se for unilateral é loucura, não amor.     

Mas é esse desvario do amor não correspondido que desperta o mundo. Ou não teríamos poesias nem romances de amor.     

Se o amor for calmo, correspondido, metrificado, quem vai querer saber os detalhes?     

Para despertar a curiosidade, vender livros e filmes, a paixão tem de ser devastadora. Muito pranto, muito desespero. Alguém se arrastando até perder a dignidade. Alguém matar ou se matar. Escândalo, sangue, gritos… aí a atenção de todos se manifesta.

Mas se eu amar quietinha, deixar ir, chorar sozinha, que graça tem?     

Todos querem fatos picantes e detalhes sórdidos, na história alheia.     

No entanto, sonham com esse amor quadradinho, morninho, certinho para si.

Somente na canção de Gil existe o despendimento de “o seu amor, ame-o e deixe-o livre para amar…” Aqui, na fria realidade, é ame-o, agarre-o e destrua sua liberdade; ou quebre suas pernas para que não se afaste, arranque suas asas para que não voe… o sentimento de posse sobre o ser amado é intenso e asqueroso.    

Não aceitar ver o outro partir não é amor. É doença.     

Matar o parceiro que quis se afastar não é amor. É doença.     

Tentar se matar porque o outro achou que era hora de terminar não é amor. É doença.     

Amor não mata. Não destrói. Não prende.     

O amor simplesmente ama. É altruísta. É bondoso. Acrescenta. Faz crescer e desabrochar.     

Se não for assim, não é amor.

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