É São João!!!!!!

Dia de fogueira, fogos, balões, bandeirinhas, quadrilha e alegria. Dia do Santo querido, aquele que comemoramos a data de nascimento (e não de morte como todos os outros). Aquele que conheceu Cristo quando ainda não eram nascidos. São João, o primo que batizou Jesus nas águas do Rio Jordão. Por isso São João Batista – o São João que batizou.

Poesia da casa – Na estrada

Não sei se passo eu por essa estrada
Ou se é essa estrada que por mim passa
No asfalto – tão cinza e tão feio
Correm brancos riscos a meu encontro

Nos dois lados troncos fazem cercas
Cruzam rápidos, levando esticados
Tantas linhas feitas de arame farpado
Só para mostrar existir um limite invisível

Poste e torres correm com seus fios
Levam luz, levam calor, levam progresso
E ainda levam as boas e as más notícias

Cruzando com esses riscos brancos
Passo eu por estrada que não tem fim
Ou é ela, a estrada, que passa por mim?

(Imagem: foto de Maria Alice)

Saudade encantada (Memória)

Escrevi esse texto em 27.09.2008. Trago-o novamente ao “Alinhavando” porque os sentimentos não mudam. Só há encanto onde há liberdade.

É preferível a dor da saudade encantada à tristeza de uma presença encarcerada

Mudamos quando lemos Rubem Alves. E para melhor.

Suas ideias, suas crônicas, seus livros, seus ensinamentos.

E também suas Estórias para pequenos e grandes.

Eu usava essa frase da abertura de hoje no meu MSN – e a curiosidade era incontida: quem era a saudade encantada, quem era a presença encarcerada? Não sei, eu respondia, não é comigo, essa frase não é minha.

É apenas uma frase – lindíssima – de “A Volta do Pássaro Encantado”. Que tanto me encantou. Talvez por tê-lo lido em um dos momentos mais delicados que passei na vida, inclusive foi lido na sala de espera de um consultório médico.

E fui atrás, comprei e o trago comigo para o ler sempre.

Ninguém é a saudade encantada. Ninguém é a presença encarcerada. Ao mesmo tempo somos – todos – saudades encantadas e presenças encarceradas.

Atire a primeira pedra quem nunca teve vontade de cortar as amarras e voar. Mas não o fez porque alguém – companheiros, filhos, pais – não sobreviveriam. Ainda bem que essa vontade passa logo, dura pouquinho, só o suficiente para abrirmos os olhos da alma para sonharmos acordados.

E quem nunca foi presença encarcerada – em casa, no trabalho, na escola.

Apenas por obrigação. E a alma nublada da tristeza de querer estar muito longe dali.

E se pensarmos em todas as pessoas que passaram pela nossa vida e já não mais estão aqui – mudanças, separações, mortes, quantas saudades encantadas trazemos dentro de nós que nos dão alento para continuarmos lutando.

Todas essas saudades encantadas, que nasceram do não-mais-ver, da separação imposta, mas que enchem de encanto o mundo das lembranças.

E não podemos, então, deixar de pensar nas pessoas que estão hoje do nosso lado, mas são apenas presenças encarceradas…

Cujas gaiolas, por covardia, comodismo e insegurança nos recusamos a abrir, porque não sabemos se resistiremos à saudade encantada de sua liberdade.

Vocês se lembram? Já contei a estória do Pássaro Encantado de muitas cores, que amava a Menina…

Mas sempre chegava a hora em que ele dizia:

“É preciso partir, ficar longe por muito tempo, para que a saudade cresça, e dentro dela o encanto!”

E ele voava…

A Menina ficava, e chorava. Até que não mais aguentou a dor da saudade e prendeu o Pássaro numa gaiola de prata, para que nunca mais a deixasse.

Ele ficou, mas murchou. Seus olhos se entristeceram e suas cores se apagaram. Acabou também a saudade, e o encanto se foi.

A Menina entendeu então, que é preferível a dor da saudade encantada à tristeza de uma presença encarcerada. E abriu a porta da gaiola.

O Pássaro voou para muito longe até que a saudade voltasse a crescer.” (Rubem Alves, A volta do pássaro encantado)

(Imagem: banco de imagens Google)

Dia de poesia – Fernando Pessoa – Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.