Poesia da casa – Visita ao passado

Eu entrei na morada do passado
Respirei fundo, vesti o casaco da ousadia
Calcei as botas da coragem, e entrei.


Demorei enxergar porque não era claro
Algumas frestas do futuro, entretanto, permitiam
A passagem de fachos de luz e claridade
E fui adiante. Com medo. Trêmula. Hesitante.
Mas fui. Tentando adivinhar no que pisava e o
Que me esperava naqueles cômodos empoeirados
Há tanto tempo abandonados, frios e tristonhos


Quando meus olhos se acostumaram à luminosidade
Comeceia enxergar o que deixara para trás
Vi que pisava em sonhos desfeitos e esperanças vãs
Tudo transformado em pó e cinzas, mistura de
Lágrimas, decepções e dores suportadas


Consegui avistar em um canto bastante alegria
E toda a antiga felicidade que não sabia

Onde a teria perdido
Podia até mesmo ouvir as risadas - aquelas mesmas Risadas que nunca mais dei


Encontrei, totalmente esquecido, encostado a uma Parede, meu cajado de arrojo
E então reencontrei minha antiga intrepidez,

Minha bravura, toda a coragem que sempre tive
Com ele fui abrindo caminho entre os escombros


E assim revi os velhos amores rompidos,

As tantas e antigas paixões esmorecidas,
Tão acabrunhados de tantas humilhações
E ainda a sede do conhecimento, que se perdera
Nas obrigações sem fim e correria de cada dia


Vi minhas antigas moradias, os sofás onde a família
Se reunia para trocar a impressões do dia
A velha e imponente mesa de jantar,

Com suas cadeiras, toalhas rendadas,
E a linda louçaria, todas inesquecíveis
E podia quase sentir o cheiro acolhedor da comida
De minha casa de infância...


De tanto remexer naquelas cinzas, achei até mesmo
Uns poucos traços, agora arruinado, da menina leve
E feliz - fragmentos do que um dia eu fui


E, finalmente, entre tantos destroços, achei,

Sob as mesmas cinzas, protegendo com todo cuidado,
Uma brasa ainda ardente, sobrevivendo às ruínas,
Que não deixara morrer, alimentando com seu calor
Uma saudade sem fim, da lembrança que guardei de
Você. Mantendo viva em mim a recordação que ficou
De tudo aquilo que não pôde ficar.

(Imagem: banco de imagens Google)

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