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É esquisito, mas sempre orientei minha vida nesse sentido – o de não ter laços, o da independência, de poder cair fora na hora que quisesse -, e agora ficou tão nítido, aos 34 anos, que realmente consegui isso, fico meio…, desamparado, acho que a palavra é essa. Devia ter inventado outra coisa? Teria sido possível? E que outra coisa seria? Não sei. Estou ouvindo Milton Nascimento que neste momento exato acabou de me dar a resposta: “Se quieres ser feliz como me dices/ no analices, ah, no, no analices…”
Andei escrevendo bastante. De repente, acho que está saindo um livro novo. Sabe que tenho MEDO de escrever? Evito sempre que posso. Dá uma grande exaustão, depois. Uma exaustão agradável, mas a cabeça fica excitada demais, é qualquer coisa muito próxima da loucura. Mas nos últimos tempos não tenho conseguido evitar. Vai saindo. É meio assustador. Passei os últimos meses envolvido com uma pequena novela, “O marinheiro”, tão desesperadamente solitária e tão alucinadamente onírica que eu tinha medo de não voltar cada vez que mergulhava nela. Acho que está pronta. Peguei pânico de máquina e, há poucos dias, voltei.
E você, como vai? Detesto perguntar “tem escrito?”. Soa sempre como cobrança, e quem faz esse tipo de cobrança geralmente não sabe que a cabeça de um escritor é louca demais para que se possa responder “sim” ou “não”. Mesmo que não se esteja escrevendo realmente, a gente está sempre escrevendo por dentro.
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(Foto de Maria Alice)