
Por hoje, e basta…

Blog de de Alice – Alinhavando letras
A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança… – desde 2008 –


A definição de escritor é banal: escritor é quem escreve.
Hoje, Dia Nacional do Escritor, medito sobre ser escritor. Porque não se está escritor – ou se é ou não se é escritor. Não dá para ser mais ou menos escritor. Não é possível ser escritor apenas às vezes.
Escrever está no sangue. Corre nas veias, invade todos os sentidos, inunda nosso ser e somos praticamente obrigados a deixarmos qualquer outra atividade para escrevermos.
Cada escritor tem uma maneira toda peculiar de colocar no papel – ou na tela – suas palavras. São muitas as histórias dos hábitos – alguns bens esquisitos, como, por exemplo, escrever imerso em um barril de água ou uma banheira; só escrever completamente nu; escrever ouvindo trechos de óperas; escrever sentado no chão… – mas, em comum, todos têm a paixão que leva a escrever.
Inspiração. criatividade, fantasia, seja lá o nome que possa dar ao impulso que leva a transmitir, por escrito, algo que se traz na alma, sem esse ímpeto não existe escritor.
Complicado responder quando nos fazem a clássica pergunta: “de onde você tira inspiração?”, porque não “tiramos” inspiração de nenhum lugar.
Apenas, dentro de nós, surge uma ideia ou uma outra pessoa que pede para sair. Precisamos ajudá-la a ganhar a liberdade. Tornar-se um texto – poesia, crônica, conto, romance, qualquer forma de escrito – e lançar-se ao mundo.
Quando temos um romance começado, por vezes o deixamos de lado. Os personagens surgem em nossos pensamentos, ganham vida própria, reclamam que estão abandonados, e temos de voltar ao texto e dar novo impulso. Escrevemos o nascimento dos personagens, mas eles vivem a própria vida e muitas vezes tomam outro rumo totalmente diverso daquele que a princípio imaginávamos que teriam.
Não há dúvida que ler bastante ajuda a ser escritor, mas não faz o escritor. Ter um bom dicionário também é grande ajuda, mas não basta para ser escritor. Escrever é sair de dentro de si e assumir múltiplas personalidades, é mostrar ao mundo seus mais íntimos pensamentos e sentimentos. Desnudar sua alma.
Não é possível tornar-se um escritor. Já se nasce escritor, ainda que não se escreva ou que se demore a começar a escrever. Não há curso, faculdade, apostila, nada que possa levar uma pessoa a ser um escritor. Porque a escrita nasceu dentro das veias.
O impulso de escrever é irresistível. Há uma necessidade física de escrever, não é possível viver com todas as frases, todos os textos dentro do cérebro.
Não é preciso ritual nem preparação. Necessários uma superfície – qualquer uma – e um objeto que a marque. E 26 letras, alguns sinais e pontos. Está pronto o arsenal do escritor.
Porque a escrita, essa não se aprende em nenhum lugar, não tem para comprar, não tem como vender. Vem do ponto mais fundo das memórias, dos sentimentos acumulados, de algum lugar inacessível de dentro do ser. Quando tudo isso excede a capacidade de armazenamento, é preciso escrever.
Escritor é quem tem a sensibilidade de deixar outros viverem dentro de si.
Escrever é o transbordar das emoções.
(Imagem: banco de imagens Google)

Eu entrei na morada do passado
Respirei fundo, vesti o casaco da ousadia
Calcei as botas da coragem, e entrei.
Demorei enxergar porque não era claro
Algumas frestas do futuro, entretanto, permitiam
A passagem de fachos de luz e claridade
E fui adiante. Com medo. Trêmula. Hesitante.
Mas fui. Tentando adivinhar no que pisava e o
Que me esperava naqueles cômodos empoeirados
Há tanto tempo abandonados, frios e tristonhos
Quando meus olhos se acostumaram à luminosidade
Comeceia enxergar o que deixara para trás
Vi que pisava em sonhos desfeitos e esperanças vãs
Tudo transformado em pó e cinzas, mistura de
Lágrimas, decepções e dores suportadas
Consegui avistar em um canto bastante alegria
E toda a antiga felicidade que não sabia
Onde a teria perdido
Podia até mesmo ouvir as risadas - aquelas mesmas Risadas que nunca mais dei
Encontrei, totalmente esquecido, encostado a uma Parede, meu cajado de arrojo
E então reencontrei minha antiga intrepidez,
Minha bravura, toda a coragem que sempre tive
Com ele fui abrindo caminho entre os escombros
E assim revi os velhos amores rompidos,
As tantas e antigas paixões esmorecidas,
Tão acabrunhados de tantas humilhações
E ainda a sede do conhecimento, que se perdera
Nas obrigações sem fim e correria de cada dia
Vi minhas antigas moradias, os sofás onde a família
Se reunia para trocar a impressões do dia
A velha e imponente mesa de jantar,
Com suas cadeiras, toalhas rendadas,
E a linda louçaria, todas inesquecíveis
E podia quase sentir o cheiro acolhedor da comida
De minha casa de infância...
De tanto remexer naquelas cinzas, achei até mesmo
Uns poucos traços, agora arruinado, da menina leve
E feliz - fragmentos do que um dia eu fui
E, finalmente, entre tantos destroços, achei,
Sob as mesmas cinzas, protegendo com todo cuidado,
Uma brasa ainda ardente, sobrevivendo às ruínas,
Que não deixara morrer, alimentando com seu calor
Uma saudade sem fim, da lembrança que guardei de
Você. Mantendo viva em mim a recordação que ficou
De tudo aquilo que não pôde ficar.
(Imagem: banco de imagens Google)


Eu sou aquela que espera, dia e noite Uma espera sem acreditar Uma espera de nada Por vezes nem mesmo sem nem saber O que se está esperando Porque já não se deseja nada Tanta espera, tanto vazio E uma saudade sem fim Eu sou aquela que sente saudade De um tempo, de um dia, De um momento, quase nada Saudade de um olhar, de um toque Um cheiro que o tempo não leva Um amor que o tempo não extingue Uma esperança desesperançada Um querer que só faz sofrer Eu sou aquela que sofre Por um abandono inexplicado Por um descaso tão doído Um sofrer do fundo da alma Que apaga o brilho do olhar Que embaça até as estrelas E tem sempre vontade de chorar Eu sou aquela que chora Que as lágrimas escorrem quentes Em uma face agora sempre gelada Chorar de amar inutilmente Uma paixão sem futuro De tanto esperar e ter saudade De tanto sofrer e chorar De tanto querer morrer
(Imagem: banco de imagens Google)