
Sim, há poesia na chuva. A água que docemente cai do céu, limpa o ar, renova a vida.
Há poesia na chuva, quando traz consigo a esperança dos plantios e das colheitas, a certeza do recomeçar, a recompensa pela espera.
Há a poesia do encanto da espera pelas flores que desabrocharão depois da chuva.
Há poesia na chuva. Que cai em gotas como se fosse o pranto celestial por essa humanidade ingrata e violenta.
Há poesia no respeito do vento, que deixa de soprar e silencia, enquanto a chuva cai.
Há poesia nos relâmpagos que precedem os trovões, como nos avisando do estrondo que virá em seguida.
Há a poesia de um guarda-chuva unindo dois corpos que caminham pelas calçadas da cidade, sem pressa, sem preocupação, celebrando o amor.
Há poesia nas enxurradas lavando as sarjetas e limpando as ruas.
Há poesia no gesto de gratidão das árvores que, sedentas, abrem seus galhos, como se fossem braços estendidos ao céu, para receberem a bênção da água pura.
Há poesia no corpo preguiçoso, que escolhe a tarde de chuva para ficar na rede da varanda, vendo os pingos correrem pelos telhados, ouvindo o doce murmúrio nas calhas e condutores.
Há toda a poesia das tardes vadias enquanto a chuva impõe o recolhimento.
Há poesia na cortina d’água que fecha a varanda, tornando a paisagem imprecisa.
Há poesia no canto dos pássaros que celebram a chuva e, ávidos, esperam que ela acabe para buscarem os insetos que surgirão nos gramados.
Há poesia no barulho gostoso e ritmado das gotas nas janelas.
Há poesia no cheiro da chuva que invade as narinas e nos remete a verões antigos, cozinhas toscas, fornos de lenha. Há poesia na alma que se alegra com a chuva.
Há, ainda, poesia no depois da chuva, que se vai, mas deixa, atrás de si, o radioso rastro de um lindo arco-íris…
(Imagem: foto de Maria Alice)
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