
Eu vi a chuva chegar.
Desejada, sonhada, ao cair da noite ela veio,
mansa como uma criança pedindo um carinho.
Assim ela chegou.
Bateu nos altos galhos das grandes árvores,
correu pelos telhados,
escorreu pelos muros e paredes.
E molhou a terra.
Molhou os caminhos, encharcou os gramados.
E no ar pairou o cheiro da chuva.
Então saí.
Para ver a chuva que chegou.
Para receber em mim essa bênção dos céus.
Para que ela corresse pelos meus cabelos
e escorresse pelo meu corpo.
Queria sentir esse carinho de amante esperado,
Esse abraço improvável.
Eu senti o cheiro da terra molhada a me inebriar
e senti o frio gostoso que a água da chuva provoca.
Então eu caminhei.
Andei na chuva, como a andarilha do destino
que se contenta com o simples caminhar.
Porque não para onde ir. Somente há o ir.
Como também não há para onde voltar.
O passado acabou.
E a chuva veio.
E lavou os caminhos.
Agora, basta escolher um e por ele seguir.
Para nunca mais voltar.
Para nunca chegar.
(Imagem: banco de imagens Google)