A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança… – desde 2008 –
Depois de tudo te amarei como se fosse sempre antes como se de tanto esperar sem que te visse nem chegasses estivesses eternamente respirando perto de mim.
Perto de mim com teus hábitos, teu colorido e tua guitarra como estão juntos os países nas lições escolares e duas comarcas se confundem e há um rio perto de um rio e crescem juntos dois vulcões.
Uma estrela que vivia no plano mais alto do céu andava preocupada com a falta de sono.
A insónia estragava-lhe os dias, desassossegava-lhe as noites.
A estrela já quase nem brilho tinha para iluminar a madrugada fria e para anunciar a chegada da manhã.
– Não sei o que hei-de fazer para melhorar deste mal – queixou-se a estrela à sua amiga Lua, que lhe recomendou:
– Apaixona-te por um cometa e, com um beijo dele, voltarás a ficar de bem com o sono, garanto-te.
A estrela acreditou que o remédio podia resultar e, por isso, pôs-se à varanda do céu, à espera de ver passar o cometa que a curasse do incómodo da insónia.
Quando ele apareceu, foi amor à primeira vista.
O beijo veio logo a seguir e, com ele, o sono descansado de que a estrela tanto precisava.
E foi um sono prolongado e profundo que a acalmou e deixou mais segura e tranquila, numa grande paz de espírito.
Mas surgiu um problema.
A estrela pôs-se a dormir o sono solto e o cometa já nem pelo rasto podia ser localizado…
Ela ficou triste e pôs-se a chorar.
Voltou a adormecer para conseguir esquecer.
Trocou a paixão pelo sono e a felicidade pela calma desejada.
A Lua, que era sua amiga, disse-lhe ao ouvido para a animar:
– Não fiques triste, porque os cometas são como as paixões, vêm e vão mais velozes do que o vento.
– Menina bonita, quer um laço ou um nó nesses lindos cabelos?
– Hoje quero um laço bem bonito de cada lado, vovó. Como estou?
– Maravilhosa, até demais para quem vai sair vendendo frutas na rua. Você anda muito alegre nos últimos dias. Posso saber o que está tentando esconder?
– Nada, disse a menina rindo, encarando a avó. Só estou feliz…
– Que bom, respondeu a avó. Veja se os laços ficaram bons…
A menina olhou no espelho, aprovou os laços, arrumou o vestido. Pediu a bênção, beijando a mão da velha avó. Estava apaixonada, mas era cedo para contar até mesmo para a avó. Pegou seu cesto de frutas e saiu cantarolando.
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– Que pressa é essa, menino? Antes lutava para não tomar banho agora fica aí batendo na porta… disse a mãe
– Está quase na hora de eu ir, mãe, tenho de tomar banho. A senhora sabe onde está meu perfume?
– Eita, desde quando precisa tomar banho e passar perfume para ir vender peixe na rua? Anda logo que seus cestos já estão prontos, respondeu a mãe.
O menino praticamente voou para o banheiro assim que a irmã saiu de lá. Demorou-se sob o chuveiro. Penteou-se com esmero. Perfumou-se como um lord.
– Nossa, quanta boniteza, disse a mãe, orgulhosa da beleza dos traços do filho. Entregou-lhe os cestos com os peixes caprichosamente alinhados, deu-lhe uma bênção que só as mães sabem dar. E ele saiu assobiando alegre. Estava muito apaixonado, mas não queria comentar com ninguém, ao menos por enquanto.
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Não demorou muito, chegaram na prateleira, e ali, juntos e apaixonados, se deixaram ficar enfeitando a sala.
Lua cheia, pelos sois iluminados
Se exibe para acender a noite
Espia do alto, mansa e serena
Alimenta de paz a vida terrena
E como fosse a deusa afrodite
Doa amor e beleza aos apaixonados
Lua cheia da quietude do universo
Espaira brilho aos sobreviventes
Apazigua corações vazios ou aflitos
Lua de incríveis histórias e mitos
Lua de mel, doçura em almas crentes
Ela seduz o poeta para a prosa e o verso
Lua cheia pendurada ao balançar das horas
Feito mar nas ondas de vai-e-vem
Como você que ilumina minha alma
Que faz sorrir meus sorrisos de calma
E feito o piscar do vagalume tem-tem
De repente parte de abandono; adeus aos emboras
A dor dessa ausência tão sofrida
quanto inesperada e nunca desejada
que levou consigo o sorriso e a paz
a alegria, a paixão e a vontade de viver
A dor dessa ausência tão sofrida
como um barco abandonado no velho porto,
um cais esquecido, do amor passado,
mãos que não se tocam, olhos que não se veem
Essa dor tão intensa e tão sofrida
que apaga o sol e torna os dias tão cinzentos
desce dos olhos e rola pelas faces de forma de gotas:
lágrimas da chuva que congela um coração castigado
Essa ausência tão dolorida e insuportável
que tem contornos de uma presença constante
de quem partiu deixando um lugar vazio
que jamais poderá ser novamente preenchido
A ausência concreta da presença abstrata
como a flor esquecida no meio do caminho
preenchido apenas das pegadas solitárias
onde antes se caminhava unidos aos pares
Tudo isso rompe a alma e tira a paz e a alegria
torna o viver uma carga quase insuportável
e sangra a ferida eterna que nunca se fechará
na dor dessa ausência tão sofrida