Pânico (Memória)

Se a depressão te visitar | Por Ana Holanda - Vida Simples

Sinto frio. Mesmo não sendo inverno. Muito frio. E aqui está bem escuro, quase treva. Tenho medo, muito medo.

Eu não consigo me segurar, deslizo rumo ao fundo desse abismo que me engole. Estou apavorada, tento me manter à tona, mas tudo é liso, escorregadio.

Caio.

A cada momento caio um pouco mais, não tem fundo esse poço em que me encontro, só frio e escuridão. E pavor. Um pavor brutal.

Não sei onde estou, não posso ver nada, estou indo em direção ao inferno. Novamente terei de atravessá-lo. Sozinha.

Mesmo que eu grite ninguém me ouvirá. O som fica preso em minha garganta, ouço meus soluços e choro. Estendo a mão. Não há outra mão à minha espera. Até mesmo quem prometeu estar sempre a meu lado, cuidar de mim, agora não pega na minha mão, deixa-me cair nesse lugar horrível, afundo mais e mais. E choro.

Quero chamar por meu pai, ele sempre me acudiu, me protegeu. Mas ele partiu em sua viagem sem volta, não está mais aqui. Choro ainda mais pela falta de meu pai, pela saudade torturante que sinto dele. Estou sozinha.

Abandonada. Até por mim mesma eu estou abandonada, já não me tenho. Minha fraqueza me mostra o quanto era falsa minha força.

Ouço vozes, risadas. Em algum lugar há pessoas despreocupadas e alegres. Provavelmente o lugar em que estão é iluminado. Essas pessoas não virão em meu socorro. Estão ocupadas em sua despreocupação. Não têm tempo nem vontade de ver que há pessoas sofrendo em volta.

Eu me encolho, começo a sentir dores. Não consigo respirar direito. Facas se movem dentro de mim e as dores são terríveis. Já não consigo mais me mexer. Ainda choro, mas até os soluços provocam dores intensas.

Até quando aguentarei viver imersa nesse pesadelo? Peço a Deus que tenha misericórdia. Estou no final de minhas forças.

O ar acaba. Meus pulmões queimam em busca de oxigênio. Preciso respirar. Estou me afogando nesse fundo lamacento em que tento me levantar. Estou com sede, preciso de água. Tateio em busca de algum objeto. Minha mão encontra algo.

Não consigo enxergar o que peguei. Parece um comprimido, um medicamento. Não tenho como identificar o que é no meio dessa escuridão, mesmo assim, em desespero total, coloco na boca e engulo a seco.

Sinto mais sede.

Não sei onde tem água.

Continuo a procurar água ou alguma coisa para beber. Encontro um rosário. Avidamente me ponho a rezar. As palavras me acalmam. O medicamento me acalma. Está frio e muito escuro. Ainda choro, já não sei quem eu sou.

A oração e o remédio fazem efeito.

Adormeço.

(Imagem: banco de imagens Google)

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Quando bate a saudade dolorida, quando a tristeza embaça o encanto, só nos resta o grande Poetinha…

Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos


Das horas que passei à sombra dos teus gestos


Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos




Das noites que vivi acalentado


Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo


Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.


E posso te dizer que o grande afeto que te deixo




Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas


Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...


É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias




E só te pede que te repouses quieta, muito quieta


E deixes que as mãos cálidas da noite


encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.

(Imagem – banco de imagens Google)

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