Bastaria voltar (Memória)

Sabe, queria tanto que você voltasse,  que vivêssemos de novo nosso mundo de encanto e paixão…

Se você voltar, amor, prometo que as estrelas explodirão em um show de luzes que o mundo todo se alumbrará.

Prometo, amor, que a Terra tremerá de emoção ao abrigar tanta alegria.

Provocaremos, com nossa paixão, terremotos e tsunamis, milhares de estrelas cadentes surgirão, a lua e o sol permanecerão para sempre juntos no céu.

Sabe, com sua volta o inverno será curto e agradável e logo a primavera desabrochará em milhares de cores e flores para encantar nossas vidas.

Quando você voltar, amor, o mar se acalmará e será manso como um balanço de criança a nos embalar sem nenhum perigo.

Na sua volta começaremos uma nova vida, novas aventuras, viagens, e o companheirismo será ainda mais intenso.

Bastaria você voltar e reconquistaremos aquela paz que só tivemos quando estávamos juntos, dividindo a vida, os sonhos, os planos, as risadas e as lágrimas.

Lembra-se, amor, daquele sítio que sempre parávamos na frente e íamos andar entre as hortênsias e as buganvílias floridas e sonhávamos comprá-lo um dia e morar lá? Então, eu tenho ido lá, deixo a moto no mesmo lugar de sempre e vou andar e chorar entre as flores, ao lembrar tanto de você. Dez meses de lágrimas.

Depois que você voltar faremos juntos aquela viagem de moto até o Alasca, e, quem sabe, atravessaremos o estreito de Bering e chegaremos na Rússia… 

Iremos até Roma, desceremos a Puglia e Campania, depois poderemos ir até o Algarve, em Portugal… já imaginou que aventura?

Poderemos fazer de novo a vida valer a pena. Mas somente se formos dois. Voarmos juntos. Sonharmos juntos…

Meu amor, tivemos tão pouco tempo para realizarmos nossos planos, vivermos nossos sonhos, e agora minha vida também está sendo levada rapidamente pelo tempo…

Volta, amor, e prometo que não me importarei se você ainda quiser fazer aquela tatuagem. E ainda prometo que eu também farei uma tatuagem.

E nós dois seríamos, para sempre, apenas um.

Eu sonho, amor, sonho dia e noite com sua impossível volta.

Mas você não vai voltar, meu amor. Eu bem o sei. Aquele passeio tão banal, o bate-e-volta para um café da manhã, sem retorno… ela esperava por você na descida depois da curva, naquela poça de óleo… ela levou você para sempre…

2 comentários em “Bastaria voltar (Memória)

  1. Compreendo a profundidade do sentimento profunda expressão de luto e saudade, onde o eu-lírico projeta no retorno da pessoa amada a restauração de um mundo idealizado de felicidade e plenitude. A linguagem é carregada de hipérboles e metáforas grandiosas, que buscam traduzir a magnitude do amor e da perda. As promessas de fenômenos naturais — estrelas explodindo, Terra tremendo, mar acalmado — servem como amplificadores da alegria que o reencontro traria, evidenciando o impacto avassalador da presença do ser amado em sua vida.
    Há uma batalha entre a esperança e a dura realidade. Inicialmente, o texto se entrega ao sonho de um retorno, detalhando planos e anseios futuros (viagens, aventuras, a compra do sítio, a tatuagem). Essa idealização é uma forma de coping, de manter viva a chama de um passado feliz. No entanto, a paralaxe se revela no final, quando a realidade cruel da perda é exposta. A menção ao “passeio tão banal”, à “poça de óleo” e ao fato de “ela levou você para sempre” quebra abruptamente a fantasia, trazendo o leitor de volta ao presente de dor e impossibilidade.
    A memória afetiva é um pilar central. O sítio das hortênsias e buganvílias, as risadas e as lágrimas compartilhadas, e os planos futuros (viagem de moto ao Alasca, Roma) são reminiscências que pontuam a narrativa, mostrando como o passado feliz ainda habita intensamente o presente do eu-lírico. A frase “Dez meses de lágrimas” demarca o tempo do sofrimento, reforçando a persistência da dor.
    Em sua essência, o texto explora a dualidade entre o desejo irrealizável e a aceitação da perda. É um grito de amor que se confronta com a inevitabilidade da ausência, um reconhecimento de que, embora o sonho da volta seja constante, a realidade é implacável. A promessa de “seríamos, para sempre, apenas um” é o ápice do anseio de fusão e completude que a presença do outro proporcionava.
    Em suma, o texto é um poderoso retrato da devastação emocional causada pela perda de um grande amor, onde a esperança de um reencontro se choca com a certeza da ausência, revelando a complexidade do luto e a força da memória afetiva.

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