Poesia da casa – Eu te sonhei

Por isso eu te sonhei.

Como personagem de Borges, eu te criei de mim
Aplaquei a solidão intensa apenas te sonhando
Desenhei, construí, errei, apaguei
Quantas vezes te desconstruí para
Em seguida erguer-te do nada e 
De novo te sonhar e te fazer meu

Busquei retalhos de meu passado
Lembranças esparsas, esquecimentos forçados
Então vi teu rosto amado
Recuperei de teus olhos penetrantes
O teu olhar intenso e profundo
Saudosa de teu abraço eu fiz teus braços
E neles me abracei noites inteiras

A cada saudade, a cada lembrança surgias
Mais palpável, mais visível, mais amado.

Sempre te sonhando eu te idealizei
Para te fazer perfeito eu te dei meu pensamento
Desde então conversamos horas a fio
Discutimos, rimos e nos entendemos
Numa cumplicidade de amantes e companheiros.

Tua voz esteve presente em mim, desde sempre,
Apenas para novamente me dizer, “te amo...”

A cada adormecer te encontrei a minha espera
Teu beijo era minha senha de boa noite
E acordava em teu corpo sonhado
Na minha vida feita de giz.

Tudo eram brumas, névoa e fumaça
Não havia contornos precisos
Mas te possuía inteiramente meu
E me entregava como santa e mártir
A um amor mais sonhado que sentido

Eras meu mundo. Meu bosque. Meu mar.
Em ti vivi, em ti entrei, em ti mergulhei
Não mais precisava de realidade em minha vida
Nosso viver surreal me bastava

Teu sorriso idealizado era meu alimento, 
E era, teu sonhado beijo, meu repouso

(Imagem: banco de imagens Google)