A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança… – desde 2008 –
Sou feita só de saudade. Não sou massa nem sou visível. Esse corpo fraco que ocupo não é meu. Pairo sobre os mortais preocupados em viver. Não tenho esses sentimentos de apego à vida E muito menos de medo da morte. Flutuo em um mundo de pesos-pesados Não sei lidar com os humanos. Porque minha essência é a saudade Sou apenas sentimento. E um único sentimento. De saudade me alimento. Com saudade adormeço Por saudade amanheço Só de saudade eu vivo E de saudade hei de morrer.
Esse texto foi escrito há mais de cinco anos… mas as lembranças continuam…
Dai-me, Senhor, a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo um ponto de partida para um novo avanço. (Gabriela Mistral)
Caminhando hoje ao longo das praias Pitangueiras e Astúrias, na altura das pedras que as separam, o mar dificultava a passagem, pela maré alta.
As fortes ondas traziam coroas de espuma tão branca que era um espetáculo quando se chocavam contra as pedras. Parei ali, para atravessar passo a passo só enquanto as ondas recuavam para nova investida.
Cenas de um passado muito distante voltaram-me à mente.
Um grupo de jovens entre 18 e 22 anos, todos amigos, alguns irmãos, outros namorados.
Todos apaixonados por praia, ficávamos horas entre a areia e os banhos de mar. Até o corpo não aguentar mais. Daí casa, banho, um cochilo, e rua de novo. Ser jovem é não sentir cansaço, ter disposição para tudo.
Reuníamo-nos na pizzaria. Era um festival de muitas pizzas, porque o apetite era enorme. E devorávamos tudo, e ainda sempre terminávamos com as infalíveis pizzas doces – califórnia, romeu e julieta, morango com chocolate. Hoje eu não comeria nenhuma. E, no máximo, como duas fatias de pizza básica. Mas aos 20 anos a história era outra…
Alimentados e felizes, era hora de ir para o apartamento da família da Sílvia, namorada do Fernando. Exatamente naquele ponto da cidade, onde as praias se dividem, no Edifício Sobre as Ondas.
E, luzes apagadas, sentados no chão, alguém tocando violão, todos cantando, fascinados deixávamos o tempo escoar enquanto olhávamos a força do mar, em ondas com brancas espumas, “entrando” sob o edifício para bater nas pedras.
Cada um seguiu seu caminho, Carlos se casou com Marta, Fernando com Silvia, uns casais se separaram, outros nem se formaram…
Mas a doce lembrança daquele tempo vadio, onde tudo era alegria, ficou cravado na saudade que não desaparece…
Encostei-me a ti, sabendo que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino, frágil,
Fiquei sem poder chorar quando caí.(Cecília Meireles)
(Imagem: Banco de imagens Google)