
Oi, vô, há quanto tempo!
O senhor não tem vindo para nossas conversas. Como? Ah, entendi. O senhor ficou preocupado com as notícias de falta de liberdade de expressão, fake news e outras coisas que têm aparecido?
Tudo bem, vô. Respeito seu ponto de vista. Mas podemos conversar sobre outros assuntos, que não política…
Sim vô, estou vendo – e sofrendo junto – todo esse horror enfrentado pelo Rio Grande do Sul. E quando vejo algumas imagens, claro que penso no senhor. É muito triste ver esse monumento ilhado no meio dessa água, sendo que essa estátua, desde 1958 está na entrada da Avenida Farrapos em Porto Alegre, e não em uma ilha…
Todas as vezes que mostram essa estátua do Laçador, lembro-me de como o senhor gostava da réplica que eu lhe trouxe lá do Rio Grande desse gaúcho, e do local onde ela foi colocada na sala de sua casa pela vovó, e que o senhor dizia que se lembrava de mim todos os dias quando a via… quanto tempo, vô, quanta saudade…
Realmente está muito complicado lá. Se pensarmos que mais da metade do Estado está arrasada, não se sabe o que será encontrado quando as águas baixarem, e é preciso aguardar que toda a água escoe, o vento não sopre em outra direção, a chuva pare de cair e todo o aguaceiro se perca no mar… Tenho fé que tudo passará. E veremos exatamente isso. A vazante dará conta e a enchente secará.
Mas o que sobrará para os gaúchos? Destruição, desolação, perdas irreparáveis.
Não falo apenas de prejuízos materiais, mas de vidas, famílias separadas e destruídas.
Praticamente todos perderam tudo ou quase tudo.
Não se estimou ainda nem o número de mortos.

Então, vô, vendo esse povo lindo e forte, mas que no momento depende inteiramente da ajuda dos irmãos brasileiros, penso que, além desse auxílio que podemos dar, devemos rezar. Rezar muito, por eles, por nós, pelo Brasil, pela humanidade.
E, em alguma parte de nós que ainda consegue ver algo positivo, nos alegrarmos com as notícias de tantos brasileiros se unindo para ajudar lá, resgatando os ilhados. Outros se doando para receber todos eles em abrigos, preparando alimentos, providenciando roupas e algum aconchego em meio a tanta desgraça. Em outras partes do país muitos se mobilizando para arrecadar doações, separar e enviar.
É o Brasil tentando salvar o Brasil. É o povo brasileiro unido para salvar uma parcela do povo brasileiro que está submetido a essa provação.
Por isso ainda é possível acreditar na humanidade. Juntos, somos invencíveis.
Essa tristeza há de passar.
E, para sempre, nos emocionaremos quando ouvirmos o canto gaúcho embalando sua gloriosa bandeira contra o céu lindo do Rio Grande do Sul.
Volte logo, vô, o senhor está muito quieto. Na próxima conversa, espero ter notícias melhores para o senhor.

(Imagens: banco de imagens Google)