Poesia da casa – Era preciso (Memória)

Um dia ela partiu. Silenciosa. Mansa. Sem dramas.
Se lágrimas brotaram, deslizaram frias e quietas.
Uma parede se ergueu e tudo foi então separado
o que era passado, ali mesmo permaneceu,
o futuro começava naquele primeiro passo


De costas para o passado, nem uma única vez
ela olhou para trás ou pensou em voltar.
Porque ela ficou. Ficou por muito tempo.
Por mais tempo que gostaria de ter ficado.
Mas era necessário seguir adiante.


Até que um dia, ela se foi. Partiu.
Juntou cacos e pedaços. Mas ainda conseguia,
mesmo assim, ser inteira. E partir.
Com tristeza pelo que ficou e ansiedade pelo
que virá. Com um adeus para o que já não há
.

E alegria pelo que será. Pela vida. Pela paixão.
Porque se muito foi perdido para sempre,
conservou dentro de si o encanto da paixão.
E por isso partiu para sempre. Íntegra. Intensa.
Dona de si, de sua vida, de seu futuro.


Sempre soube que, se um dia partisse, seria
para sempre. Jamais voltaria. E jamais voltará.

(Imagem: foto de Nelson O’Reilly Filho)