
Chegada a hora da minha solitária viagem, vou sem medo
Sem dor, sem lamentos nem levarei saudades.
Já sangrei em vida por todos os espinhos com que me feriram
Esses que hoje preenchem de flores o meu desolado caminho
Seguem hipócritas um cortejo vazio de sentimentos
Não me atiram pedras nem me lanham com espinhos
Mas carregam flores e entoam doces cânticos
Fiquem todos com os seus cantos e suas flores
Eu já parti, não estou mais aqui. Nada faz diferença.
Se me for dado apenas um lugar no inferno, comigo
Não os levarei – pois nem lá os quererei por perto
Mas, se merecedora de ser recebida e conduzida pelos
Anjos do céu, irei eu, apenas eu, sozinha como fui em vida
Não quero suas flores – também elas mortas – arrancadas
De seus caules e já sem vida. Nem seus cânticos inúteis
Terei, finalmente, para mim, as flores vivas da misericórdia
E o canto de vida dos anjos que estarão comigo.
(Imagem: foto de Maria Alice)