Meu pai partiu. Fisicamente. Porque no amor ele nunca se foi. Na saudade. Na necessidade de sua companhia. E, de certa forma, ele ficou. Porque está presente nesta grande família que ele criou por puro amor. Está presente no amor, nas lembranças, nas reuniões, a ausência mais presente entre nós.

As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis sobre um fundo de manchas já cor de terra — como são belas as tuas mãos — pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram na nobre cólera dos justos…
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços da tua cadeira predileta, uma luz parece vir de dentro delas…
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente, vieste alimentando na terrível solidão do mundo, como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das tuas mãos.
E é, ainda, a vida que transfigura das tuas mãos nodosas… essa chama de vida — que transcende a própria vida… e que os Anjos, um dia, chamarão de alma…
(Imagem: foto de Maria Helena Ferreira da Rosa)