Tempus fugit, carpe diem et memento mori

Há dias tão preguiçosos, entre o despertar e o adormecer são horas tão vadias, que quase entendemos o sentido da vida. O verdadeiro sentido – não apenas cumprir as obrigações, mas sim as vontades. Não apenas pagar as contas, mas sim as promessas feitas. Não apenas se doar a todos, mas se dar a uma só pessoa.
Entendemos que não somos feitos de borracha, não somos incansáveis nem nos acomodamos em outras formas que não a nossa. Podemos nos sentir cansados sem culpa. Podemos não fazer nada sem dedos apontados.
E entendemos que o devaneio é o flanar da alma. Uma tarde divagando proporciona tanto prazer quanto uma tarde flanando na Champs Elysées…
O pensamento se desacelera, vai-se estreitando até parar a roda. E esvaziar totalmente, ficando tudo branco, silencioso, confortável.
Não há motivo de voltar à realidade. E podemos mergulhar no nada e sonhar em silêncio. Buscar, dentro da alma, a verdadeira essência. No exato local onde mora a poesia dentro de cada um de nós.
Mesmo deixando o tempo correr sem obrigações tradicionais, estamos aproveitando o nosso dia. E muito. Porque não podemos ignorar que um dia morreremos. E todos viverão muito bem sem nossa presença. Não somos tão necessários quanto, na nossa humana arrogância, nos imaginamos.
As palavras não são necessárias. Basta ouvir o som de um violino, um cello, uma harpa, um piano ou uma flauta.
Olhar não é preciso. Basta enxergar a beleza de amar e se amalgamar ao ser amado dentro da paixão.
E assim desenvolver cada sentido dentro de nós mesmos, descobrindo a riqueza que trazemos em nosso interior.
Um dia só para os sentidos. Nós nos deveríamos brindar periodicamente com esse presente. Porque o tempo passa. Mais rápido do que desejamos.
E nesse dia dedicado à alma, apenas mimamos nossos sentidos. Imateriais. Maior que todas as riquezas que acumulamos nos cofres da existência. Somos o que nossos sentidos captam. Alcançamos o que nosso pensamento organiza. Aproveitamos o que nossa vontade busca. E não nos esquecemos, nunca, que um dia nada mais restará para nós – nem esse corpo que nos foi cedido quando nascemos teremos eternamente conosco. Até ele se desfará em pó.
Por isso a frase “tempus fugit, carpe diem et memento mori” faz mais sentido no passar do tempo e na sensação de que estamos desperdiçando nossa vida e a morte não nos dará prorrogação para buscar o que não vivemos no tempo certo.
Basta, para tudo isso, deixar a alma flanar. Mas é preciso ter muita coragem, porque em algum momento tem-se de retornar à realidade. E ela não é bonita quanto os nossos devaneios.
(Imagem: banco de imagens Google)