Mês: agosto 2024
Dia de Poesia – Sophia de Mello Breyner Andresen- Se

Por hoje

Espaço para Nina Zobarzo

O tempo passou e ela não usou aquele vestido,
Deixou guardado pra aquela ocasião,
Que nunca aconteceu,
O tempo passou e ela nao ousou com aquele esmalte,
Não fez aquele curso,
Não escreveu aquela memória,
Não arriscou, não tentou, não pagou pra ver...
O tempo passou e ela não leu aquele livro,
Nunca começou a caminhada,
Não mudou o cabelo,
Não comprou o tal creme...
Havia sempre alguém pra cuidar,
Alguém que não ela,
Alguém que precisava,
Mais que ela,
Outra prioridade.
"Depois faço",
"Depois vejo",
"Depois penso",
O depois era ela,
E nunca chegou,
Ela nunca chegou pra ela, nela, com ela, por ela.
O tempo passou e o depois ficou distante...
Ela não tinha mais a mesma força,
Os mesmos sonhos,
As mesmas pernas pra subir a ladeira...
Ela se deixou e o tempo chegou antes,
Muito antes do depois.
Almas predestinadas – Autoria desconhecida

Duas almas são predestinadas quando tem uma missão a cumprir juntas, e assim, por ter sido um encontro marcado lá do outro lado, onde pactuaram voltar, para se encontrarem e realizar determinada missão, sendo assim, quando as almas se encontram, tudo pode acontecer, podendo haver a explosão do amor não vivido em outras vidas.
Este amor chega sem ter dia marcado ou momento marcado para acontecer.
Simplesmente chega, e se instala, criando uma verdadeira orgia de sentimentos alegres, que modificam todos os propósitos e conceitos até então firmados.
O encontro de duas almas tem como foco principal, não a aparência física, mas a afinidade entre elas existente, e o que o Destino a elas destinou, como o porque e o quando tudo deve acontecer.
Existem momentos de tristeza, causada por uma dúvida que machuca, que gostaria de saber o porque de não se terem encontrado antes, ainda mais quando o momento desse encontro acontece quando não é mais possível extravasar toda a plenitude do amor que trazem, quando não é mais possível viver a alegria de amar e querer compartilhar a vida com o outro.
Enfim, como essas almas se sentem sem a possibilidade de realizar este amor em total plenitude, o que causa um inexplicável sentimento de saudade de algo que não foi vivido.
Uma saudade doída de algo vivido em outras vidas, saudade daquilo que poderia ter sido, mas que por alguma razão não o foi.
Reconhecem porém que não haverá retorno para suas pretensões, e mesmo estando distantes, entendem a alegria, a tristeza, o querer um do outro.
Estas almas falam além das palavras, e aliás, delas não precisam, pois se comunicam, se encontram, se amam pelo éter, pelo espaço sideral. São encontros etéricos.
Se o reencontro ocorrer no tempo certo, estas almas afins se entrelaçam e buscam a forma de juntas ficarem, num processo contínuo de reaproximação até a consumação do resgate daquilo que vieram cumprir.
Se diferente for, se o reencontro ocorre num espaço tempo diferente do que suas realidades possam permitir, ainda assim estas almas ficam marcadas, e nunca conseguirão se separar, mesmo que os corpos se separem, elas continuarão a se sentir, pois almas que assim se encontram não mais se sentirão sozinhas, pois reconhecerão a necessidade que têm uma da outra para toda a eternidade.
São almas que atravessam os tempos, as muitas passagens, buscando o resgate final de seu amor, até que em determinada passagem conseguem cumprir o resgate, tendo então seu descanso final.
Poesia da casa – Anoitece

Quando o dia se esvai, tudo é silêncio,
e a noite, suave, traz a lua e seu encanto
na hora em que nada mais se espera,
penso em tudo enquanto penso em nada;
eu me recolho no vazio de minha alma,
para deixar fluir toda essa ternura
e sonhar que não há tristezas na vida
e ter a certeza de que estamos juntos.
Que vontade eu sinto de você,
que saudade eu sinto de nós dois;
venha me tocar do jeito que só você me tocou,
venha me falar as palavras que só você já falou,
venha, meu amor, ser meu ninho e serei seu aconchego,
venha me amar da forma que nunca ninguém me amou.
(Imagem: foto de Carlos Eduardo Ferreira)