A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança… – desde 2008 –
Dia de poesia – Mia Couto – Já não há mais domingos
Todas as vidas gastei para morrer contigo. E agora esfumou-se o tempo e perdi o teu passo para além da curva do rio. Rasguei as cartas. Em vão: o papel restou intacto. Só os meus dedos murcharam, decepados. Queimei as fotos. Em vão: as imagens restaram incólumes e só os meus olhos se desfizeram, redondas cinzas. Com que roupa vestirei minha alma agora que já não há domingos? Quero morrer, não consigo. Depois de te viver não há poente nem o enfim de um fim. Todas as mortes gastei para viver contigo.