
Era um simples jardim.
Chão de terra, canteiros limitados por pedras rústicas, sem luzes nem fontes. Um simples e humilde jardinzinho. Mas o suficiente para ser vivido.
Ali colhia as flores necessárias para dar um pouco de cor à sua pálida vida.
Não estava bem cuidado, ultimamente se descuidara do jardim encantado. De suas alegrias. Até de si se descuidara.
Caminhou vagamente por entre as flores, com cuidado para nenhuma esmagar com os passos incertos, agora inseguros com que caminhava pela vida.
Curvou-se e colheu algumas – uma aqui, outra acolá, algumas de cores mais vivas, outras mais desbotadas, algumas ainda em botão e outras já desabrochadas.
Sentindo um calor no peito, segurou firme seu arranjo e entrou. Colocou todas sobre a mesa onde as separou com capricho e paciência, começando ajuntar as flores da paixão, depois, de um lado colocou os amores idos, desabrochados e já perdidos, de outros o amor ardente – flor em botão que prometia alegrias, fazendo o contraste espalhou as amizades verdadeiras – coloridas e poucas – e as escorou com as demais, pessoas, sentimentos e sensações que passaram sem deixar muitas lembranças, desbotadas e quase insignificantes.
Trouxe, por fim, o mais precioso e frágil vaso de cristal que encontrou, seu próprio coração, e pôs-se a arrumar com carinho cada camada de flor. E altiva, linda e bem no meio, colocou com todo cuidado, a mais viva e bonita das flores: a flor da saudade.
(Imagem: banco de imagens Google)