
Amanheceu verão. O céu de um incrível azul com nuvens brancas bem delineadas. E calor. Muito calor. Um típico dia de verão.
Saiu sem preocupação com janelas travadas ou roupas mais pesadas. Seria mais um escaldante dia desse verão intenso e interminável.
Quando chegou a hora do almoço, sentiu, ao caminhar pelas ruas próximas, a mudança do clima. A luminosidade não era mais a mesma daquela radiante manhã e um vento trazia sensação de frescor. Até gostou de caminhar sem sentir tanto calor.
No meio da tarde, fez-se a noite. Nuvens escuras desceram a ponto de quase serem tocadas com a mão das janelas do escritório localizado em andar bem alto, como se o próprio céu estivesse chegando na terra. O vento se intensificou, e, entre raios e trovões, a natureza se manifestou violentamente, mostrando a pequenez e insignificância dos seres humanos.
Lembrou-se das janelas apenas encostadas deixadas naquela manhã. E temeu pela chuva entrando em casa e destruindo tudo. Mas nada poderia ser feito. Avisos de inundações e avenidas e ruas intransitáveis. Não podia ir embora. Era melhor continuar trabalhando, e rezar para que a energia elétrica aguentasse o vigoroso temporal tropical. Sempre tivera medo de tempestades. Mas ultimamente as enfrentava diariamente, tanto na natureza quanto na vida pessoal. Sabia que nenhuma duraria para sempre.
Finalmente o temporal cedeu, a chuva e o vento amainaram, e foram se acabando aos poucos. Esperou, ainda trabalhando, por cerca de duas horas, para ter certeza do escoamento das enxurradas e inundações.
Então saiu, com a fina e pouca roupa que viera de manhã.
A temperatura caíra mais de 15 graus durante o dia. Sentiu o ar bastante frio atingir as costas e teve arrepios. Caminhou até o estacionamento. Calçadas cobertas de lixo que água trouxera.
Galhos caídos interditando a passagem tanto na rua quanto na calçada. Pedaços de tudo esparramados pelo chão.
Chegou em casa.
Desceu do carro e olhou para céu, que tanta tragédia causara naquele dia exótico.
E então, em êxtase, ficou observando a lua cheia maravilhosa e seu séquito de esplendorosas estrelas mostrando que mesmo o dia mais caótico pode ter um fecho de alumbramento.
E ainda a esperança de um amanhã tranquilo.
Basta olhar para o céu…
(Imagem: Paisagem noturna, óleo sobre tela, de Maria Alice)