
Não sei o que é ser velho ou velha. Apenas o que é idoso ou idosa. E isso basta. Então vou tentar identificar sinais que podem distinguir o velho do idoso. Para ser idoso é necessário ter muitos e muitos anos vividos. Para ser velho, não. Velho é uma questão de postura e atitudes.
Velho é tudo o que não tem utilidade, o que pode ser descartado e não fará falta. Velho não tem serventia nem para si nem para o mundo. É um nada. Não precisa viver muitos anos para deixar claro que é velho. Só serve para atrapalhar, por isso deve ser descartado.
É velho quem faz o mal para outras pessoas. O que faz do ombro do outro um degrau para subir na vida porque não teve capacidade de fazer a própria vida.
Velho é quem falsifica preenchimento de fichas de inscrição para conseguir uma vaguinha na cota reservada a outras pessoas. Quem faz de conta que cursa uma faculdade que também faz de conta que é um curso superior, só para ter promoção no serviço público onde se encosta.
Quem vai atrás de falsos atestados para ludibriar o patrão. Quem pratica pequenos crimes, pequenas infrações, tentando enganar quem é honesto.
Velho é quem põe a vaidade acima da razão e vive de aparências, através de artifícios.
Velho é quem destrói famílias e relacionamentos para tentar melhorar a própria e lamentável situação, porque não tem recursos intelectuais nem força de vontade para melhorar a própria realidade.
Esses são os velhos, totalmente dispensáveis em um mundo que deveria buscar o aprimoramento da raça humana. São a escória da humanidade. Independente da idade que ostenta. Geralmente um poço de inveja.
Já o idoso, por sua vez, é aquele ser humano que tem idade, coleciona décadas, tem mais dias no passado do que no futuro. E isso não causa desespero. Mas sim conforto emocional. Olha para o passado e sorri, com alegria, ao ver sua caminhada. Não teme o futuro porque o construiu para si.
Esse plantou, regou, se dedicou e colheu.
Ensina, corrige, ajuda, constrói. Fonte de conhecimento e rochedo que dá segurança aos jovens. E se dedica a promover o bem dos outros. Sem inveja, sem soberba, enxerga a alma do outro, tem compaixão – a capacidade de se colocar no lugar de alguém e sentir sua dor – e já viveu momentos bons e ruins, tendo aprendido com a própria vida que não se pode ter tudo, que todos merecem respeito, e cada um recebe exatamente a proporção que lhe cabe do que espalhou, do que construiu.
O idoso tem vaidade comedida, e orgulha-se da própria idade. O velho se desespera a cada fio de cabelo branco, a cada ruga, porque nada tem em si para se orgulhar.
Enquanto o velho fica tentando aparentar a mocidade que não possui, o idoso tem a jovialidade que a todos agrada.
Antes de chamar alguém de velho, acenda a luz mais forte, olhe-se no maior espelho que tiver e repare bem nas suas feições. Na sua feiúra pelo que vem plantando pelo caminho e guarde seu veneno. Talvez você seja muito mais velho do que os idosos que despreza.
Idoso, sim, velho, nunca.
(Imagem: banco de imagens Google)