
Olhava o céu e pensava que, por ser um só, o céu que o cobria também a cobria em algum ponto deste mundo. Não sabia por onde andava, perderam-se um do outro nos descasos da vida. Mas sempre pensava nela quando olhava para o céu.
Se uma nuvem tomava a forma de um sorvete, era no seu prazer infantil de ir tomar sorvete que pensava.Se tomava a forma de um urso, lembra-se de sua alegria na feira agrícola quando ele acertou o tiro no alvo e recebeu o prêmio em forma de um ursinho de pelúcia.
Com um aperto no peito recordou de tanta lembrança boa que trazia dela, viva dentro de si, sempre alegre, sempre grata, sempre doce.
E a doçura que o conquistara era sua essência.
Mas se afastaram. Cada um seguiu seu caminho.
Deitou-se sob uma árvore, olhando o céu, adormeceu.
Acordou e já estava noite. Precisava se levantar para entrar em casa. Tudo escuro, tudo ermo, tanto silêncio… tinha silêncio mas não tinha paz. Sentia falta da paz que ela lhe trazia, da alegria que reinava na casa quando ela estava ali.
A sensação de liberdade e leveza que sentiu quando se separaram desapareceu por completo, esmagada pela solidão e pela saudade.
A lua surgiu. Antes de reparar se era cheia, se estava prateada ou dourada, lembrou-se do quanto ela gostava da lua, como a esperava todos os finais de tarde, em sua cadeira estrategicamente colocada na grama.
Percebeu que agora ela era ideia fixa, obsessão. Dormia e acordava pensando nela. Decidiu que era hora de procurá-la e tentar uma reaproximação. Quem sabe, o destino é tão inesperado…
O mais difícil era tomar a decisão. Mas, agora que decidira, olhou com prazer para o céu. A escuridão do gramado facilitava enxergar milhares de estrelas e a grande lua. Cheia, dourada, imponente.
Viu ao longo do pasto um rastro de luar, que mais parecia um farol iluminando o caminho e mostrando por onde deveria seguir.
Não teve dúvidas. Virou as costas para a casa e para a vida passada, e resolveu seguir o caminho que a lua iluminava.
(Imagem: foto de Nelson O’Reilly Filho)