
A saudade, sorrateira, nunca pediu licença para entrar.
Espaçosa, oportunista, adentra na alma e se entranha no existir de forma inseparável.
Fere, machuca, sangra. Nunca cicatriza. Ferida viva para não deixar esquecer.
Porque a ausência tão presente ainda vive dentro de cada um. Não é passado.
É presente, mais forte do que jamais foi a presença.
A ausência é constante, é concreta, muito mais do que era a presença. Não deixa qualquer dúvida.
Esta saudade louca impõe a ideia obsessiva.
Amanhece-se e anoitece-se com ela ao lado. Apenas não se adormece com ela, não se pode mais dormir de verdade. A saudade não permite.
Ela controla, domina os pensamentos, não consente que se tenha vida própria, desejos nem os próprios pensamentos.
Pulsa como oceano de emoções controversas, em marés de desejo e saudade.
E, para caber mais saudade, para ter mais espaço, ela expulsa a paz, a alegria e todos os sonhos.
E nos transforma em um mar de saudade.
(Imagem: foto de Maria Alice)