
Conforme o tempo passa nossas vontades, nossos gostos vão se alterando. Coisas importantes, cuja falta seria fatal, já não importam.
Pessoas sem as quais não viveríamos se desfazem na fumaça do esquecimento.
Outras prioridades vêm e tomam conta do pensamento, do desejo e da necessidade.
Acho que isso é amadurecimento – ou envelhecer mesmo.
Por exemplo, coca-cola. Fazia parte da dieta, da rotina, de tudo. Agora passo meses sem um copo de coca-cola e descobri que não morri por isso, embora imaginasse, antigamente, que não sobreviveria sem ela.
Outra coisa é viajar.
Sempre adorei viajar.
Sempre estive pronta para pegar a mala (malinha, que não gosto de carregar a casa quando saio) e ir. Ia para todo lado. Sozinha, acompanhada, com todo mundo, com alguém… Mas ia.
Pegava o carro e cortava estrada para qualquer lado que me atraísse. Era um prazer dirigir, viajar sozinha. Hoje pago para não chegar perto de um volante (confesso que metade do problema são esses indecentes motoqueiros – cabriteiros, porque aquelas maquininhas estão mais para cabritas do que para motos). Se posso vou de táxi em todo lugar só para não tirar o carro da garagem.
Dirigir hoje, para mim, é castigo.
Também avião.
Avião era sapato, usava para me deslocar sem qualquer problema.
Agora estou acomodada – ou preguiçosa…
Só de pensar em aeroporto me dá arrepio.
Tenho uma vontade etérea de ver outros lugares, de voltar outras vezes para a Itália, novamente para Paris. Um desejo constante de estar lá.
Mas não tenho a menor vontade de ir até Paris. Não consigo mais me imaginar dando plantão no aeroporto, enfrentando a falta de educação da maioria das pessoas no interior do avião. A neura dos policiais aeroportuários, a esteira da bagagem.
Iria, feliz, se pudesse ser teletransportada.
Será que isso é envelhecer?
(Imagem: foto de Maria Alice)