
Abro um livro antigo deixado em um canto da minha estante. Lido e relido há algumas décadas, de repente ficou esquecido.
Agora o recuperei e folheei.
Do meio de suas folhas, cai um pequeno cartão amarelecido pelo tempo passado.
Recolho do tapete e viro para ver o que é. Duas linhas verdes, paralelas e rústicas, cortam verticalmente o papel perto da borda esquerda. No alto, o desenho de alguns corações sobrepostos, como se fossem vitórias-régias.
Embaixo do coração, em letra cursiva, Mooni Ezra – design.

Respiro fundo antes de abrir e ver o interior. Sinto-me invadir por um misto de saudade e ternura. Mooni. Meu querido Mooni!
Com as mãos um pouco trêmulas, emocionada abro essa lembrança de um passado distante.
Um convite para sua festa de aniversário.

Meus olhos se enchem de lágrimas. Lembro-me desse evento, da delicadeza e do carinho com que Mooni sempre me recebia – no ateliê ou em sua linda casa.
De suas obras maravilhosas, inspiradas na natureza.
Por seu entusiasmo com o Brasil, onde considerava ser o melhor lugar para se viver.
Dos flamingos. Das cacatuas. De seu amor pelas aves.
Dos almoços com coquetéis e vinhos.
Das ostras a Rockefeller no Manhatann, harmonizadas com um pinot grigio ou chablis. Algumas vezes um champagne branco, brut.
Quantas conversas. Mooni, que superou suas provações, era leve. Mostrava-me outro lado da vida e abria meus horizontes.
Quantas risadas. Sabia ser ácido no tom certo. Seus comentários – irônicos ou não – sempre cabiam inteiramente no contexto…
E fico imersa em tantas lembranças de um amigo tão presente, tão querido, tão bonito e sempre gentil e doce, poliglota, imigrante que morria de saudade da Pátria e da mãe que ficara para trás. Ele – Mooni – foi uma das poucas pessoas que nunca passaram, porque mesmo ausente da vida, é tão presente na realidade, nas imagens, nas recordações, que é um amigo sempre comigo.
Mooni, que partiu tão cedo…
(Imagens: fotos de Maria Alice)