
E fui caminhar.
Quando as paredes não mais deixaram passar o ar e as cortinas e janelas afastaram a luz, não havia um som sequer além do bater do meu próprio coração, eu saí. Precisava de ar. Precisava de luz. Precisava enxergar além dos metros até a próxima parede. Precisava ouvir a vida.
Então saí.
Segui por ruas, atravessei praças. Vi casas. Vi árvores. Vi pessoas.
Eu apenas via. Porque nada enxergava.
Não sei se havia sol. Sabia que estava claro.
E ouvi.
Ouvi sons – vozes, buzinas, gritos e freadas. Sirenes pedindo passagem. Trechos de músicas defronte bares.
Nada escutava. Apenas ouvia tudo.
Senti o vento se chocar contra mim.
Respirava o ar que encontrava, puro, poluído, indiferente o que fosse.
E fui.
Caminhei até a completa exaustão. Não havia onde chegar, porque só importava ir. Talvez ali houvesse vida. A vida que não havia no meu ponto de partida.
Resolvi não voltar.
(Imagem: foto de Maria Alice)