
Solidão. Ou estar só. Ou viver só.
Nem sempre a solidão é solitária.
Principalmente quando é fruto de escolha.
Porque solidão não é exatamente estar só. Nem viver só. Estar só é circunstancial. Viver só e sentir isso como um peso é abandono.
Mas solidão – consciente e por opção – é muito mais do que isso tudo. Solidão é riqueza de alma.
Pode ser, pontualmente, triste.
A tristeza eventual faz parte da vida de todos. De quem vive só e de quem vive a dois ou a dez.
Mas estar junto é quase sempre triste.
Viver junto com outra pessoa é a situação do pássaro na gaiola: através das finas grades, o pássaro recebe luz. Imagens. Vê a natureza, vê os arredores, vê a vida em seu entorno. Mas não vive nada. Canta de desespero. Não de solidão, mas de falta de liberdade. Tem tudo ali – comida, água, limpeza, calor, luz, conforto. Mas não tem liberdade. Isso é viver só. E geralmente a vida compartilhada é assim.
A solidão da vida compartilhada é a situação mais triste que existe. É ver a passar a vida que não pode viver.
Na fala poética de Oswaldo Montengro, “A solidão é como um nome que se esquece, Como um homem que envelhece, sem viver o que sonhou”. Isso é estar só.
Viver só é opção. Ou abandono.
Abandono quando tudo o que se quer é viver com familiares ou amigos, mas o egoísmo, o descaso, o “tanto faz” dessas pessoas afasta definitivamente e impede a convivência.
Enquanto a opção por viver só – ainda que por decepção, por desentendimentos, não é imposto, mas escolhido.
E quem vive só descobre toda a riqueza que traz em si.
Descobre o valor da liberdade. Optar pela solidão é escolher a liberdade.
Nada impede ter família, ter amigos. Conviver.
Mas a vida, essa só a si pertence.
E, nesse caso, ter para si toda sua vida, não é para todos. Só para os especiais.
(Imagem: foto de Carlos Eduardo Ferreira)