
Para pensar 32

Blog de de Alice – Alinhavando letras
A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança… – desde 2008 –


Não morra por mim
Talvez eu nem exista
Sou parte de um sonho,
Imaterial, leve e etérea.
Não sou real
Nem estou aqui de verdade
Sou apenas o que sobrou
de tudo o que alguém sonhou um dia
E eu vou me desfazer no ar
No nosso primeiro abraço
(Imagem: banco de imagens Google)

Uma vez – era 1º de janeiro de 1986 – eu resolvi nadar da praia até a escuna, nas imediações de uma ilha, dispensando o barquinho de transporte. Fui. Sozinha. Os grupos de nado já tinha ido mais cedo.
A certa altura minha cervical travou – imediatamente o braço esquerdo “morreu”. Eu tenho uma lesão que paralisa o lado esquerdo, desde que meu pescoço ficou embaixo de um caminhão, aos 18 anos.
Eu tentei mais duas ou três braçadas. Só o direito respondia.
Eu sabia que se forçasse muito, a perna esquerda também paralisaria. Já era acostumada com o problema.
Respirei fundo para clarear as ideias e dominar o pânico – se você apavorar e engolir água, vai ficar ali para sempre.
Virei de costas e comecei a boiar. Bem solta, leve, achando bom.
Era céu e mar. E eu.
Fui rodando com a marola, para me localizar.
A praia estava muito longe. Não daria para voltar.
O barco estava muito longe. Não daria para alcançar.
Então eu fui me posicionando numa linha reta entre a barco e o local onde uma família – mãe e duas crianças pequenas, que não podiam voltar nadando – esperava na praia pelo barquinho de resgate.
E ali fiquei. Uns vinte minutos até meu pessoal, que já estava no barco, notar que eu não estava mais nadando e precisava de socorro.
Só uns vinte minutos.
Mas, sozinha, deitada sobre o mar e coberta pelo céu, eu era o nada, o nada-do-mais-profundo-nada no meio de duas imensidões – o mar e o céu, quando então o tempo toma outra dimensão.
Vinte minutos são a eternidade.
Sobrevivi.
Estou aqui.
Outra pessoa, não mais a que entrou no mar e ficou vinte minutos aguardando um escaler para resgate.
Conclusão:
Aprendi, em vinte minutos, que não se luta com a vida. Mas, pela vida, ainda que permanecer imóvel e calma seja a única chance possível de vitória.
Sou a única responsável pela minha vida e pela minha sobrevivência. Ninguém pode lutar por mim.
O que vida me manda, aceito com alegria.
Se for amargo, bebo de uma vez e esqueço.
Se for doce, saboreio em pequenos goles, para durar mais.
A vida é o que é. Reina absoluta até que a morte nos resgate.
(Foto de Maria Alice)



OK, é Praga – respondo novamente, desde que publiquei esta foto em minha página aberta, e novamente a publico e respondo aqui, de uma vez:
A foto foi, sim, tirada em um restaurante de Praga, República Tcheca, há alguns bons pares de anos, na verdade, algumas décadas atrás.
Estava tomando a genuína pilsen, em seu próprio berço – e pedi o copo pequeno, porque não sou muito de cerveja e nem fazia assim tanto calor, cerveja para mim é bebida de praia, de preferência em boa companhia.
Mas, voltando à foto, foi uma viagem maravilhosa, eu sempre quis ir a Praga. Era um desejo recorrente.
Eram livros de estórias e histórias que se passavam em Praga, cada vez que me caía um nas mãos sonhava mais e mais ir até lá. Eram filmes feitos na antiga Tchecolosváquia. E os vírus do turista profissional se multiplicando.
Daí li A Insustentável Leveza do Ser. E quis mais ainda ir a Praga.
Aí assisti Kolya. E delirei – se não fosse a Praga teria ataques de lombriga, chiliques e piripaques… só esperei a queda do comunismo, o que só veio a ocorrer em 1989, quando a então Checoslováquia teve de volta a liberdade, através da “Revolução de Veludo“. Era a deixa para eu ir… E não fiz por esperar.
Até que… FUI À PRAGA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
E não me decepcionei em nada. Era até mais do que eu sempre esperei.
Estive em lugares que só se tornaram real porque fui lá, vi, ao vivo e em cores, esses locais que povoavam um rico imaginário que é próprio de quem gosta de ler:
Katedrála svatého Víta, a maravilhosa e antiga igreja; Pražský hrad , o famoso Castelo de Praga; Pražský orloj, o relógio astronômico medieval, em rua central, diante do qual multidões param esperando seus movimentos; Obecní dům – o notável prédio da Câmara Municipal, estilo Art Nouveau –Vltava, o rio que corta Praga e sua Ponte Carlos; Mala Strana e sua roda d’água, bairro incrivelmente típico, peculiar, muito usado para filmagens; – Staroměstské náměstí, a velha Torre…, foram tantas as maravilhas que fica difícil enumerar aqui.
Vi um grau de civilização bem mais elevado que o nosso aqui, do Brasilsão velho de guerra!
Vi a temida polícia de preto, resquício dos anos de chumbo.
Um povo que se redescobre a cada dia, mostra sua alegria de viver, seu empenho em ter a Pátria grande e respeitada, em ver a verdadeira democracia reinar absoluta.
Vi os telhados vermelhos de Praga e constatei que realmente os telhados em Praga são vermelhos.
Vi, ainda, a imagem original do Menino Jesus de Praga, que lá é chamado de Deus Menino, vi restos de guerra e, acima de tudo, vi os cristais mais lindos que poderia imaginar.
E ouvi a língua mais esquisita que poderia haver, aprendendo o básico para ser gentil e bem aceita pelos nativos. Mas reconheço, essa é difícil de verdade, não tem nenhum nexo com qualquer língua conhecida.
Imagino como se sentiam os navegadores e exploradores quando se deparavam com populações nativas falando línguas e dialetos absurdamente ininteligíveis. Mas, é claro, pequeno detalhe que em nada embaçou o prazer da viagem.
Quase não voltei, porque lá estava muito bom, muito bom mesmo. Mas chegou a hora e o avião, com algumas horas de atraso, decolou…
Quem sabe um dia volto para lá…
(Imagem: foto do acervo pessoal da autora)