Dia dos Pais. Estendo os braços, mas não há mais o abraço. Não há mais o sorriso acolhedor. Não há mais o brilho dos olhos de um raro tom de verde escuro.Não há mais o colo figurado ou literal. Só restam muitas lembranças. Só há muita saudade. Ao meu pai. A todos os pais que já partiram, um poema de Mario Quintana:

As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já da cor da terra
— como são belas as tuas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da nobre cólera dos justos…
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza que se
chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas…
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente, vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah! como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das tuas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos nodosas…
essa chama de vida — que transcende a própria vida
… e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.
(Imagem: foto de Maria Alice)