A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança…
Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.
É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que se as portas das gaiolas estivessem abertas eles voariam. A verdade é o oposto. Os homens preferem as gaiolas ao voo. São eles mesmos que constroem as gaiolas onde passarão as suas vidas. (Rubem Alves , Religião e Repressão)
A insensatez que você fez Coração mais sem cuidado Fez chorar de dor O meu amor Um amor tão delicado
Ah, porque você foi fraco assim? Assim tão desalmado Ah, meu coração quem nunca amou Não merece ser amado
Vai meu coração ouve a razão Usa só sinceridade Quem semeia vento, diz a razão Colhe sempre tempestade Vai, meu coração pede perdão Perdão apaixonado Vai porque quem não Pede perdão Não é nunca perdoado
Pensa bem o que representas dentro desta casa. De um modo geral. Teus amigos te estimam, muitas vezes és, para eles, motivo de alegria e prazer, e ao teu coração parece que não poderias viver sem eles; no entanto, se partisses, se fosses arrancado desse círculo, por quanto tempo sentiriam o vazio que tua perda haveria de provocar nas suas vidas? Por quanto tempo? Ah! O ser humano é tão efêmero que até mesmo onde está verdadeiramente seguro de sua existência, onde sua presença produz uma impressão genuína, ou seja, na lembrança, na alma das pessoas que ama, mesmo aí ele se apaga, desaparece, e isso num espaço de tempo tão curto! (J. W. Goethe – Os sofrimentos do jovem Werther)
Quanta importância as pessoas se dão a si mesmas, mas não conseguem perceber se lhes é dada, pelos outros, tamanha importância.
Cada um tem uma imagem e uma dimensão de si mesmo, sem apreender o mundo exterior, para que possa enxergar sua exata imagem e sua exata dimensão no olhar do outro. Isso é intrigante.
Ninguém é. Ninguém tem. Ninguém pode. Porque esses verbos são transitivos. Necessitam de um complemento para que façam sentido ao leitor. Não há como interpretar qualquer um deles sem que se lhes dê um significado pelo complemento.
Assim são as pessoas. A importância que cada um tem em determinado momento ou circunstância não se transmite para toda a existência e muito menos para sua descendência. Tudo muda em questão de momento. Nada fica. Nada permanece. E, neste caso, os verbos são intransitivos.
Ou seja, para o positivo, necessita-se de complemento. Para o negativo, cada um se basta a si mesmo.
Alguns sentimentos que movem a humanidade servem, na verdade, para a destruição de todos e de cada um.
A arrogância, a altivez, o sentimento de superioridade demonstram, quando vistos com isenção e lucidez, um complexo de inferioridade invencível. Porque pretender ser melhor que o outro mostra que a sensação é que se é bem pior.
A inveja destrutiva pelo que não se tem leva à derrocada da personalidade, a ganância pelo que o outro tem mostra o desespero de não se sentir capaz de construir.
E, o pior, o sentimento de dominação, de que o outro não sobreviveria sem sua presença, é a perdição de muitos.
Porque o ser humano é resiliente e sua própria existência vem em primeiro lugar e deve ser defendida a todo custo. A perda do outro – para a vida ou para a morte – pode provocar algum sofrimento, mas que será superado.
Ninguém morre porque perdeu uma pessoa. Pode chorar. Pode gritar. Pode até querer morrer. Mas não morre. Sobrevive.
E um dia, com grata surpresa, perceberá até que pode ser feliz mesmo sem aquele que se foi.
Do outro lado, não sei se com surpresa ou com desespero, o que se foi perceberá que o abandonado voltou a ser feliz. Que todo o sofrimento, as lágrimas, a saudade, tudo se esgarçou com o tempo. E que foi completamente esquecido.
Quem muito se afasta, em um momento perde o fio para conseguir voltar. E se torna um “tanto faz” na vida do outro.
Fique perto, porque a distância, seja real, seja afetiva, leva ao esquecimento.
Sobre a mesa, um bloquinho “post-it”. Que é de máxima utilidade.
Mas nenhuma mensagem anotada.
Há tanto a fazer, mas nada ali escrito.
Não adianta. O tempo não permite sequer uns minutos para anotar as tarefas do dia. Que, na verdade, nem há necessidade de se anotar, pois que se repetem tristemente iguais.
Às vezes a vida se torna um tédio.
Na verdade, a vida oscila entre o caos e o tédio.
E não há como dar conta de tudo. Por isso tanto se corre e pouco se faz. Talvez o tempo esteja passando muito depressa, ainda que tenhamos a sensação de que não está nem passando.
Porque estamos desmotivados depois de tanto isolamento, tantas falências, tanta falta de sensibilidade daqueles que deveriam olhar para e pelo povo.
O aumento notável de moradores de rua e pedintes nas esquinas causam sofrimento. É triste ver que famílias estão nas ruas, que a fome e a miséria continuam avançando sobre a população desvalida.
Mas os interesses políticos estão acima de tudo.
Provavelmente esses políticos olham para o povo e pensam: “Que morram de fome”; e serão enterrados como vítimas de covid.
Isso é o que interessa.
Ontem subi no elevador do hospital com duas funcionárias que saíam da “cerimônia” (ou palhaçada?) do governador que fez questão de estar presente no início da vacinação.
Ambas se dando a maior importância, achando que estavam salvando o mundo. Talvez nem o próprio emprego esteja salvo…
E assim caminha a triste humanidade que voltou a olhar para o céu e esperar o maná. Sem perceber que, na nossa vida, o máximo que cai do céu é chuva. E, às vezes, ácida.
Vou pegar uns lápis e fazer desenhos gregos nesse bloquinho. Distrair mente e a mão.