Quand elles nous aiment, ce n’est pas vraiment nous qu’elles aiment. Mais c’est bien nous, un beau matin, qu’elles n’aiment plus. (L’Homme et l’amour, Paul Géraldy)

Por vezes me surpreendo a pensar em quantas pessoas já passaram pela minha vida, deixando alguma marca.
Sei que muitas outras passaram, mas não lembro sequer a feição. Quem se lembra de todos os colegas de todos os anos de escola? Ou do cobrador do ônibus que pegava diariamente para ir ao colégio? Ou dos funcionários da faculdade? E assim tantas pessoas que não nos marcaram.
Em compensação, algumas passaram e nos deixaram tantas marcas, tantas lembranças, que é impossível não sentir saudade. Uma saudade gostosa, de um tempo que passou e sabemos que não voltará, mas que valeu a pena ter vivido.
Tudo era tão simples, dois ou três amigos de cada irmão chegavam no final da tarde, todos se uniam e se dividiam ao redor da mesa de pingue-pongue, e a festa era quase diária, regada a muita limonada feita em casa.
Um lanche reforçado quando a noite chegava, e a roda de bate-papo. Resolvíamos todos os problemas do mundo. Aí um pegava um violão, e não tinha mais fim. Em algum canto dois jogavam xadrez, compenetrados, em outra dimensão.
Pergunto-me, hoje: onde estão esses amigos do tempo passado? Que fizeram da vida? que fazem hoje? Será que todos conseguiram seu lugar ao sol? são felizes? Quantos já morreram, antes de viverem plenamente?
A vida é um contínuo ir, nunca se volta, apenas se vai, nunca se para, a não ser na morte. Há até algumas pausas – doenças, cirurgias – quando temos a impressão de que o tempo parou. Mas só parou para nós, lá fora tudo continuou.
A maior vantagem de ter uma família grande e unida é esse não-se-perder-de-vista jamais. Irmão é bicho que gruda. Não é preciso se encontrar todo dia, mas há um canal de notícias em família que mantém as informações atualizadas diariamente, como se ainda vivêssemos na mesma casa.
Não importam os quilômetros que nos separam, porque para quem ama não existe distância. E os sobrinhos, suas descobertas, seus caminhos, tão interessantes, tão surpreendentes, a se revelarem a cada dia…
Também os primos – espécie de irmãos – cuja amizade deve ser cultivada com muito carinho, sempre mantendo o contato.
Mesmo os que foram morar longe – alguns muito longe mesmo, muito, muito longe – sempre dão um jeito para um encontro. As festas reúnem todos, e parece que festa sem primos não é festa.
Esses, ainda que distantes, nunca se separaram da família, é possível manter um contato, acompanhar a vida de cada um, o crescimento dos filhos…
E os amigos que chamamos agregados – aqueles tão queridos que parecem pertencer à família – mandam notícias constantes, tudo tão facilitado pelo instantâneo dos encontros no ciberespaço e que também sempre estão nas festas, trazendo os filhos e, quiçá, logo alguns trarão netos.
Essas pessoas com quem foi possível manter contato tornam a vida mais leve, mais animada.
Então volto a pensar: e todos aqueles dos quais já me esqueci? Será que também já me esqueceram?
(Imagem: banco de imagens Google)