Dia de poesia – J. G. de Araújo Jorge – Nossa cama

Olho nossa cama. Palco vazio
sem o drama, sem a comédia, 
do nosso amor.

A nossa cama branca,
branca página, em silêncio,
de onde tudo se apagou...

(Meu Deus! Quem poderia ler aquelas ânsias, 
aqueles gemidos,
aqueles carinhos
que a mão do tempo raspou
como nos velhos pergaminhos?...)

A nossa cama
imensa, como a tua ausência,
tão ampla, tão lisa, tão branca
tão simplesmente cama,
e era, entretanto, um mundo,
de anseios, de viagens, de prazer,

– oceano, que teve ondas e gritos encapelados,
e nele nos debatemos tanta vez como náufragos
a morrer... e a renascer...

Olho a nossa cama, palco vazio
em nosso quarto – teatro fechado –
que não se reabrirá nunca mais...

Nossa cama, apenas cama
nada mais que cama
alva cama, em sua solidão
em seu alvor...

Nossa cama:
– campa (sem inscrição)
do nosso amor. 

(Imagem: foto do acervo de Maria Alice)


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