
Olho nossa cama. Palco vazio sem o drama, sem a comédia, do nosso amor. A nossa cama branca, branca página, em silêncio, de onde tudo se apagou... (Meu Deus! Quem poderia ler aquelas ânsias, aqueles gemidos, aqueles carinhos que a mão do tempo raspou como nos velhos pergaminhos?...) A nossa cama imensa, como a tua ausência, tão ampla, tão lisa, tão branca tão simplesmente cama, e era, entretanto, um mundo, de anseios, de viagens, de prazer, – oceano, que teve ondas e gritos encapelados, e nele nos debatemos tanta vez como náufragos a morrer... e a renascer... Olho a nossa cama, palco vazio em nosso quarto – teatro fechado – que não se reabrirá nunca mais... Nossa cama, apenas cama nada mais que cama alva cama, em sua solidão em seu alvor... Nossa cama: – campa (sem inscrição) do nosso amor.
(Imagem: foto do acervo de Maria Alice)