A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança…
Eu te prometo meu corpo vivo
Eu te prometo minha centelha
minha candura meu paraíso
minha loucura meu mel de abelha
eu te prometo meu corpo vivo
Eu te prometo meu corpo branco
meu corpo brando meu corpo louco
minha inventiva meu grito rouco
tudo o que é muito tudo o que é pouco
meu corpo casto meu corpo santo
Eu te prometo meu corpo lasso
mar de aventura mar de sargaço
vaga de náufrago onda de espanto
orla de espuma do meu cansaço
eu te prometo meu doce pranto
Eu te prometo todo o meu corpo
ardendo eterno na nossa cama
como um abraço como um conforto
P´ra que me lembres além da chama
eu te prometo meu corpo morto
Um dia, ao ler alguma coisa que aqui postei sobre Saudade, meu padrinho, Elcio, me ligou para elogiar o texto e disse: “Não sei se você tem saudade, se você sente toda essa saudade que você escreve, mas gosto tanto dos seus textos desse tema, que acho que você deveria escrever exclusivamente sobre saudade…” Dedico esse post de hoje a ele, que, agora também, é uma das minhas maiores saudades…
Para falar de saudade
Ah, saudade…
Tanta saudade, tanta ausência, tanta falta…
Às vezes penso que sou feita só de saudade, por isso a distância existe – para que eu também possa existir…
Não há Drummond, Vinicius ou Neruda que consiga cantar a saudade que sinto. Essa saudade é tão minha, tão carne, tão sangue, que outros não a pressentem nem sentem. Só eu posso tê-la, senti-la, descrevê-la. É o que mais tenho de meu nessa vida: essa saudade, companheira inseparável, péssima conselheira, grande estimuladora de bobagens, bebedeiras, e lágrimas.
Porque sentir saudade é viver do que não há; é tentar forçar a realidade dentro da névoa do esquecimento; é tentar esquecer dentro do whisky; é chorar, chorar e chorar…
A vida, muitas vezes, é leve, mas a saudade que arrasto tem um peso imensurável.
A presença é pouca, é pequena. Mas a ausência, ah, essa é ilimitada. E a saudade que a ausência traz é de tamanho indescritível.
E por isso o sorriso se torna raro. A alegria se esgarça.
Caminho, levando comigo o fardo e a doçura dessa imensa saudade. Que se tornou, depois de tanto viver a meu lado, a única e fiel companhia que tenho.
Nas ondas do vento existe um dragão e eu vago não tenho adaga na mão, existe a quimera da minha evasão e eu vago não tenho a minha ilusão, existe a simpleza de toda emoção e eu vago não tenho um lápis senão, eu punha depressa na mesma canção adaga quimera as ondas do vento e um grande dragão
Naquele dia “12 de abril de 1945” eu vi meu primeiro campo de horrores. Ficava próximo à cidade de Gotha. Nunca fui capaz de descrever minhas reações emocionais quando encarei pela primeira vez a evidência inquestionável da brutalidade nazista e o desrespeito cruel a qualquer senso de decência. Até então eu só conhecia aquilo em termos gerais ou através de fontes secundárias. Estou certo, no entanto, de que jamais, em qualquer momento, experimentei uma sensação de choque igual. Visitei cada canto e esconderijo do campo pois senti que era meu dever estar em posição, a partir de então, de testemunhar em primeira mão sobre aquelas coisas, caso em algum momento surgisse a crença ou hipótese de que “as histórias de brutalidade nazista foram apenas propaganda”. Alguns integrantes da equipe de visitação foram incapazes de prosseguir com o suplício. Eu não só o fiz como, assim que retornei ao quartel-general de Patton naquela tarde, mandei mensagens a Washington e Londres requisitando que ambos os governos enviassem instantaneamente à Alemanha um grupo aleatório de editores de jornal e grupos de representantes das legislaturas nacionais. Senti que a evidência deveria ser apresentada imediatamente aos públicos americano e britânico de uma maneira que não deixaria lugar para dúvidas cínicas.
……………………………………………………………….
A evidência visual e o testemunho verbal da fome, crueldade e bestialidade foram tão esmagadores que me deixaram um pouco enjoado. Em um determinado cômodo, eles haviam empilhado vinte ou trinta homens nus, mortos de fome, e George Patton não foi capaz nem de entrar. Ele disse que ficaria enjoado se o fizesse. Eu fiz a visita deliberadamente, com a intenção de ser capaz de dar um testemunho em primeira mão dessas coisas caso no futuro surja uma tendência em atribuir essas acusações à mera “propaganda”. (Dwight D. Eisenhower), Comandante Supremo das Forças Aliadas).
Hoje, 27 de janeiro, é o dia dedicado à lembrança dos horrores da Segunda Guerra. Fixado nessa data, na qual, no ano de 1945, os soviéticos libertaram os prisioneiros do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau.
Mas não um dia de comemoração. Porque nada há a ser comemorado. Só muita lembrança triste. Opressiva.
Convivi com sobreviventes de alguns desses lugares. Chorei todas as vezes em que ouvi suas histórias.
Um traço comum entre todos era contar a história diversas vezes e mostrar o número tatuado no braço, como se tivessem medo que não eu não acreditasse. Eu sempre acreditei. Essa página horrível da história sempre me tocou profundamente, como se eu tivesse participado de tanto sofrimento.
E os relatos eram sempre assemelhados – crianças, ainda, levados com a família, não sabiam para onde estavam indo. Não havia nenhum tipo de divulgação do que viriam a sofrer, a que seriam submetidos. Ao chegarem, as famílias eram separadas – homens para um setor, mulheres para outro. Era a última vez em que se viam.
A maioria relata que a mãe não aguentou muito tempo, morrendo logo, de fome, fraqueza ou doenças ali existentes.
Outros relatam que sobreviveram porque eram os mais jovens da família e viram o pai / a mãe / irmãos ou irmãs mais velhos morrerem ou serem mortos.
Quando da chegada dos aliados, esses sobreviventes (sobreviventes?????) foram encontrados em condições indescritíveis, de acordo com seus salvadores.
Por isso 27 de janeiro não é dia de comemoração.
É dia de recolhimento, meditação. De pensarmos como a humanidade pode assistir a tal horror. E lutarmos para que o holocausto não seja esquecido e muito menos negado, e sempre lembrado nesse dia dedicado à memória das vítimas.
Marian Turski, 93 anos, judia polonesa sobrevivente, nos adverte : ”Auschwitz n’est pas tombé du ciel soudainement, Auschwitz trottinait, marchait à petits pas, se rapprochait, jusqu’à ce qu’il arrivât ce qui est arrivé ici” (Auschwitz não caiu do céu repentinamente, Auschwitz trotou, andou a passos pequenos, aproximou-se, até que aconteceu tudo o que aconteceu aqui), e termina suplicando aos políticos, poderosos e ao povo: “Não sejam indiferentes!”
Nunca estaremos totalmente livres de outro regime de horror. Mas se não negarmos que já existiu, se estivermos alertas aos primeiros passos (desde a abjeta substituição da bandeira de um país pela bandeira de um partido político nas manifestações públicas, por exemplo), unidos no bem e em nome do bem, conseguiremos evitar se repita.
Mas – volto a afirmar – hoje não é dia de comemorar nada, exatamente nada.