
Não vejo a vida como as estações do ano, terminando com o triste inverno depois do longo outono. Prefiro medir a minha vida pelas floradas anuais.
Tudo se repete com tanto ritmo, até nos faz pensar que vivemos repetidamente a mesma história. Não há um novo ano, mas o mesmo ano se repetindo indefinidamente enquanto vivemos…
No início, a profusão dos verdes – muita chuva, gramados, samambaias, heras, os intensos verdes contrastando com o azul forte do céu.
Então o calor se acalma e vêm a temporada das quaresmeiras em flor. A cidade coberta de tons de rosa, desafiando os olhos para conseguirem enxergar tanta beleza.
Em seguida, a explosão das flores das paineiras, outros tons róseos, que desaguam em uma neve branca cobrindo calçadas e praças quando a paina se liberta e é levada pelo vento.
De repente, entram os ventos de agosto – intensos, por vezes violentos, e a bandeira nacional se completa com o verde fazendo fundo para a profusão dos ipês amarelos colorindo lindamente a paisagem.
Os caminhos e gramados se tornam amarelos com as flores ali espalhadas.
Vão-se os ventos, vai-se agosto e irrompe setembro – o tão esperado setembro.
Explodem os ipês brancos, as calçadas se tornam uma sucessão de flores brancas, a vista descansa, sabendo que logo as chuvas retornarão – quanto mais secos os meses anteriores, mais linda a florada do ipê branco, que anuncia abundância de chuvas nos próximos meses.
A natureza se recolhe, pela seca prolongada. As flores se exibem, desesperadas para chamar a atenção e então receberem água.
Os ipês se despedem de suas flores, alguns ipês rosados resistem. Mas todas as flores se vão, tingindo as calçadas.
E começa a beleza ímpar, o arrebatamento dos flamboyants nas praças e nos canteiros de avenidas.
Originário do distante Madagascar, atingindo até 12 m de altura, com diâmetro da copa muitas vezes superior a esse número, traz a sombra para nosso calor tropical e enche de alegria nossos olhos com suas flores de fortes tons.
Realmente seu nome é adequado à sua florada – pois as flores flamejantes nos lembram exatamente o fogo ou as chamas de uma fogueira.
E vejo as mesmas ruas, agora vestida de tons alaranjados, avermelhados, tudo misturado dando a impressão de que as árvores se curvam sob flores em chamas.
E o calor avança, tropical e violento, e as flores rasteiras voltam a dominar a paisagem, desenhando os caminhos, colorindo os lugares, antes que tudo volte aos verdes originais, enquanto aguardam a próxima florada das quaresmeiras…