24.01.2019
(Um ano e seis meses de pandemia – por isso a impossibilidade de viajar doeu tanto para mim neste tempo estranho…)

Que correria no dia-a-dia. Mas me mantenho firme no propósito de postar aqui diariamente.
Enquanto conseguir…
Trabalho, família, escritos, quatro casas para administrar…
Por viver essa vida tão corrida e sem rotina, recebi há algum tempo o título de “administradora do caos”. Não me ofendi.
Pensei que, se conseguir, realmente, administrar o caos, já estarei fazendo muito.
Porque não é fácil não morar de verdade em nenhum lugar, não ter parada, ficar indo de um lugar para outro, vivendo à moda nômade.
Sou cigana do século XXI. Cigana do Terceiro Milênio.
Lembro-me dos belos ciganos húngaros, que nos receberam naquela noite mágica, e me pergunto se algum dia voltarei lá, para jantar novamente num sítio nos arredores de Budapeste, vendo a neve caindo suavemente sobre o azul Danúbio.
E, depois de saborear um inigualável goulash original, feito por mãos ciganas, acompanhado de vinho feito em casa naquele sítio no meio do nada, passar o resto da noite dançando as danças típicas com uma família cigana.
Não sou desse tipo de ciganos, aqueles que têm sua pequena propriedade e passam a vida morando no mesmo lugar.
Talvez tenha, na verdade, raízes nômades de outros lugares, das tribos de beduínos que atravessam sem cessar os desertos, a procura de tudo e ao encontro de nada.
O silêncio do deserto me atrai. A solidão também. Mas não o calor.
Ou apenas carrego nos ombros mais do que posso realizar, então fico nesse vai-e-vem cumprindo agendas alheias, tentando dar conta de três ou quatro vidas em uma.
Mas aí teria de somar todas essas vidas aos meus já tantos e tão cansado anos e seria muito velhinha para estar dando conta.
Então continuo só tentando entender porque não consigo parar numa casinha de porta-e-janela e ali plantar meus temperos e minhas flores e ficar sossegadinha em uma cadeira de balanço, sonhando o que já foi e esperando, com tranquilidade, a morte chegar.
(Imagem Pinterest)