Je voudrais que tu sois là / que tu frappes à la porte et tu me dirais c’est moi / Devine ce que j’apporte Et tu m’apporterais toi. (Boris Vian – Berceuse pour les Ours qui ne sont)

Leio essa estrofe, e sonho. Sonho que pode ser verdade. Quando você batesse em minha porta, e simplesmente me trouxesse você, com que amor essa porta seria aberta, com que paixão eu diria para você entrar... Sonho com a felicidade que seria ver você voltando a alegria de saber de sua volta trazendo você de volta para mim...
Atire a primeira flor quem nunca sonhou com essa cena. Com essa chegada ou com esse retorno.
Vivemos na eterna espera da realização da paixão, essa força vital que nos mantém vivos e respirando.
Quando tudo naufraga, tudo afunda dentro e em redor de nós, a que nos agarramos? À paixão que segura nossa cabeça fora d’água e nos faz querer continuar vivendo. Para que? Para realizar essa mesma paixão.
A mais leve esperança de viver plenamente a paixão é a senha para o sonho, para a realidade, para a motivação vital.
A potência motriz de nossa existência é, simplesmente, a paixão.
Por tudo e por alguém.
E não existe o lado negativo em tudo isso?
Claro que existe.
A paixão nos torna saudosos, fantasiosos, gulosos, impacientes, destemidos, atrevidos, por vezes insones ou angustiados. Tudo bem. Faz parte.
Talvez a pior parte seja, mesmo, a saudade. Porque é a única que não depende exclusivamente de nós para ser aniquilada. E, pela saudade que corta mais do que faca afiada, nos tornamos sonhadores.
Sonhamos acordados com o momento encantado do reencontro.
Apaixonar-se é encantar-se. E encantar-se é ser enfeitiçado. Paixão é feitiço.
Tudo o que se quer é ter, frente a frente, ao alcance do abraço, a pessoa pela qual nos apaixonamos. A distância é a tortura do apaixonado.
Então, a cena modelo da realização de nosso sonho está nas palavras de Boris Vian, “Eu queria que você estivesse ali, que você batesse na porta e você me diria Sou eu. Adivinha o que te trago. E você me traria você”
(Imagem: banco de imagens Google)