Pensa bem o que representas dentro desta casa. De um modo geral. Teus amigos te estimam, muitas vezes és, para eles, motivo de alegria e prazer, e ao teu coração parece que não poderias viver sem eles; no entanto, se partisses, se fosses arrancado desse círculo, por quanto tempo sentiriam o vazio que tua perda haveria de provocar nas suas vidas? Por quanto tempo? Ah! O ser humano é tão efêmero que até mesmo onde está verdadeiramente seguro de sua existência, onde sua presença produz uma impressão genuína, ou seja, na lembrança, na alma das pessoas que ama, mesmo aí ele se apaga, desaparece, e isso num espaço de tempo tão curto! (J. W. Goethe – Os sofrimentos do jovem Werther)

Quanta importância as pessoas se dão a si mesmas, mas não conseguem perceber se lhes é dada, pelos outros, tamanha importância.
Cada um tem uma imagem e uma dimensão de si mesmo, sem apreender o mundo exterior, para que possa enxergar sua exata imagem e sua exata dimensão no olhar do outro. Isso é intrigante.
Ninguém é. Ninguém tem. Ninguém pode. Porque esses verbos são transitivos. Necessitam de um complemento para que façam sentido ao leitor. Não há como interpretar qualquer um deles sem que se lhes dê um significado pelo complemento.
Assim são as pessoas. A importância que cada um tem em determinado momento ou circunstância não se transmite para toda a existência e muito menos para sua descendência. Tudo muda em questão de momento. Nada fica. Nada permanece. E, neste caso, os verbos são intransitivos.
Ou seja, para o positivo, necessita-se de complemento. Para o negativo, cada um se basta a si mesmo.
Alguns sentimentos que movem a humanidade servem, na verdade, para a destruição de todos e de cada um.
A arrogância, a altivez, o sentimento de superioridade demonstram, quando vistos com isenção e lucidez, um complexo de inferioridade invencível. Porque pretender ser melhor que o outro mostra que a sensação é que se é bem pior.
A inveja destrutiva pelo que não se tem leva à derrocada da personalidade, a ganância pelo que o outro tem mostra o desespero de não se sentir capaz de construir.
E, o pior, o sentimento de dominação, de que o outro não sobreviveria sem sua presença, é a perdição de muitos.
Porque o ser humano é resiliente e sua própria existência vem em primeiro lugar e deve ser defendida a todo custo. A perda do outro – para a vida ou para a morte – pode provocar algum sofrimento, mas que será superado.
Ninguém morre porque perdeu uma pessoa. Pode chorar. Pode gritar. Pode até querer morrer. Mas não morre. Sobrevive.
E um dia, com grata surpresa, perceberá até que pode ser feliz mesmo sem aquele que se foi.
Do outro lado, não sei se com surpresa ou com desespero, o que se foi perceberá que o abandonado voltou a ser feliz. Que todo o sofrimento, as lágrimas, a saudade, tudo se esgarçou com o tempo. E que foi completamente esquecido.
Quem muito se afasta, em um momento perde o fio para conseguir voltar. E se torna um “tanto faz” na vida do outro.
Fique perto, porque a distância, seja real, seja afetiva, leva ao esquecimento.