
As naus partiram Uma a uma, deixaram o porto E se foram para sempre O grande mar as tragou E elas sumiram Num horizonte sem fim Num balanço sem volta As naus partiram Como todos os amores Que um dia deixam a alma E se vão, mar da vida afora Em busca de novos horizontes Sem se importarem com a dor causada Vão, felizes, seguindo as ilusões As naus partiram E aquele porto, agora vazio, Guarda apenas o inútil cais Que vê as naus diminuírem Na medida que se afastam As mesmas naus, ingratas, Que sequer olham para trás As naus partiram Ignorando o pranto do cais Que suporta tanto abandono Que tanto pedia “leva-me junto, Nau amada, não me deixes aqui” E o cais, desesperado, agora vago, Deixado para sempre no velho porto... As naus partiram Para quem parte, a aventura A conquista, a novidade E, para quem fica O vazio do porto onde, Até então, se abrigavam Na ternura do cais amoroso As naus partiram Deixando um vácuo de amor, de paixão E de vontade de viver Um rastro de pranto dolorido Um cais destroçado e ferido Onde tudo é saudade Tudo é angústia, desolação As naus partiram Chora o cais o desespero solitário De se ver sozinho, sem porvir Tudo ficou triste, vazio, Neste cais, coração abandonado, e sabe Que as naus partiram E não voltarão jamais
(Imagem: banco de imagens Google)