Da série “Foi poeta, sonhou e amou na vida” – 21 – Alphonsus de Guimarães

Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) foi um poeta brasileiro, um dos principais representantes do Movimento Simbolista no Brasil. Marcado pela morte de sua prima e amada Constança, sua poesia é quase toda caracterizada pelo tema da morte da mulher amada. Todos os outros temas que explorou como religião, natureza e arte, de alguma forma, se relacionam com o mesmo tema da morte.

Afonso Henrique da Costa Guimarães, conhecido como Alphonsus de Guimarães, nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, no dia 24 de julho de 1870. Filho do comerciante português Albino da Costa Guimarães e de Francisca de Paula Guimarães Alvim, fez os cursos básicos em Minas Gerais.

Aos 17 anos se apaixonou pela prima Constança, filha do escritor Bernardo Guimarães seu tio-avô. Com a morte prematura da prima, em 1888, o poeta abandona o curso de Engenharia e se entrega a vida boêmia.

Nessa época, Alphonsus de Guimaraens já colaborava no Almanaque Administrativo, Mercantil, Industrial, Científico e Literário do município de Ouro Preto.

Em 1891 resolve viajar para São Paulo com o amigo José Severino de Resende, e Inicia o curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, entrando em contato com os poetas simbolistas. 

De volta para Ouro Preto, em 1893, continua o curso de Direito na recém-criada Academia Livre de Direito de Minas Gereis, colando grau em 1895.

Alphonsus de Guimaraens viaja para o Rio de Janeiro, onde conhece Cruz e Souza, poeta que já admirava e que junto com Alphonsus, e Augusto dos Anjos se tornariam os principais autores do Simbolismo no Brasil.

De volta a Minas Gerais, em 1906, Alphonsus é nomeado promotor de Conceição do Serro, hoje Conceição do Mato Dentro, ocupando em seguida o cargo de juiz municipal em Mariana. Em 1897, casa-se com Zenaide de Oliveira, com quem teve 14 filhos. Dividiu seu tempo entre as atividades de juiz e a produção de sua obra poética.

Alphonsus de Guimaraens faleceu em Mariana, Minas Gerais, no dia 15 de julho de 1921.

A poesia de Alphonsus de Guimaraens representou significativamente o Simbolismo no Brasil. Projeta-se no panorama literário pelo sentimentalismo e musicalidade de seus versos. 

Os temas predominantes são o amor e a morte. Os sonetos amorosos dirigem-se à sua amada morta, Constança. Alphonsus de Guimaraens faleceu em Mariana, Minas Gerais, no dia 15 de julho de 1921.

(Fonte: ebiografia)

ISMÁLIA

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...



Dona Mística

Piedosa: o olhar nunca baixou à terra
Fitava o céu, porque era pura e santa ...
Tinha o orgulho fidalgo de uma Infanta
Que entre escudeiros e lacaios erra.

Deusa nenhuma, por mais alta, encerra
Em si, talvez, misericórdia tanta:
Ainda hoje na minha alma se alevanta
Como uma cruz no cimo de uma serra.

Foi-lhe a vida um eterno mês-de-maio.
Cheio de rezas brancas a Maria,
Que ela vivera como num desmaio.

Tão branca assim! Fizera-se de cera ...
Sorriu-lhe Deus e ela que lhe sorria,
Virgem voltou como do céu descera.

Dia de poesia – Roberto Ferrari – Dor de amor

Se tu pudesses de repente compreender
Toda loucura que meu amor pode conter
Se tu pudesses, num momento de razão
Saber ao menos quanto dói uma paixão
Quanta loucura habita meu peito
Quanta felicidade irradia dos meus olhos
Quando te veem e te abraçam
Quem sabe  mulher, ao descobrir a dor do amor
Tu jamais partisses para sempre me amar
Mas me parece que uma poesia iria nascer
Na minha voz embargada pela dor de sofrer de amor
E em cada verso iria te dizer que vale mais morrer de dor
Do que viver um momento longe de ti e dos teus abraços.

(Imagem: banco de imagens Google)

Lições do mar (Memória)

Uma vez – era 1º de janeiro de 1986 – eu resolvi nadar da praia até a escuna,  nas imediações de uma ilha, dispensando o barquinho de transporte. Fui. Sozinha. Os grupos de nado já tinha ido mais cedo.

A certa altura minha cervical travou – imediatamente o braço esquerdo “morreu”. Eu tenho uma lesão que paralisa o lado esquerdo, desde que meu pescoço ficou embaixo de um caminhão, aos 18 anos.

Eu tentei mais duas ou três braçadas. Só o direito respondia.

Eu sabia que se forçasse muito, a perna esquerda também paralisaria. Já era acostumada com o problema.

Respirei fundo para clarear as ideias e dominar o pânico – se você apavorar e engolir água, vai ficar ali para sempre.

Virei de costas e comecei a boiar. Bem solta, leve, achando bom.

Era céu e mar. E eu.

Fui rodando com a marola, para me localizar.

A praia estava muito longe. Não daria para voltar.

O barco estava muito longe. Não daria para alcançar.

Então eu fui me posicionando numa linha reta entre a barco e o local onde uma família – mãe e duas crianças pequenas, que não podiam voltar nadando – esperava na praia pelo barquinho de resgate.

E ali fiquei. Uns vinte minutos até meu pessoal, que já estava no barco, notar que eu não estava mais nadando e precisava de socorro.

Só uns vinte minutos.

Mas, sozinha, deitada sobre o mar e coberta pelo céu, eu era o nada, o nada-do-mais-profundo-nada no meio de duas imensidões – o mar e o céu, quando então o tempo toma outra dimensão.

Vinte minutos são a eternidade.

Sobrevivi.

Estou aqui.

Outra pessoa, não mais a que entrou no mar e ficou vinte minutos aguardando um escaler para resgate.

Conclusão:

Aprendi, em vinte minutos, que não se luta com a vida. Mas, pela vida, ainda que permanecer imóvel e calma seja a única chance possível de vitória.

Sou a única responsável pela minha vida e pela minha sobrevivência. Ninguém pode lutar por mim.

O que vida me manda, aceito com alegria.

Se for amargo, bebo de uma vez e esqueço.

Se for doce, saboreio em pequenos goles, para durar mais.

A vida é o que é. Reina absoluta até que a morte nos resgate.

(Foto de Maria Alice)

Texto de Ana Acto (de Pedaços de mim)

 

Pendem-me nas pálpebras todos os cansaços

De meus olhos, apenas uma pequena nesga de brilho se lhes rebela

Desenham-se-me na íris todos os tormentos

Que em minha expressão se espelha

Em cumplicidade

Também meus lábios se lhes juntam

E se cerram conformados

Saudosos de todos os momentos

Em que em loucura foram por ti beijados

O tempo se escusa a seguir a meus lamentos

Sucubindo em protesto lho peço

Mas me exorta a despertar

Me leva a ver o mar

E a sentir em meu rosto a brisa do vento

Ah, soubesse ele ….

Como eram os beijos dos lábios do meu amor

Se sentaria comigo na areia

Condoído da minha dor

Dia de Poesia – Mia Couto – Saudade

Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
sói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés

Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas

Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trémula, raiz exposta

Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono

(Imagem: foto de Adriano dal Molin – Pôr-do-sol sobre o Rio Madeira, Mirante II, Porto Velho, RO – em 01.02.2007, às 17h02)