Poesia da casa – Nosso mapa

Na paisagem do teu corpo
Desenho os traços do meu querer
Encontro montes, picos e colinas,
Planícies, savanas e campinas
No relevo de teu peito
Descanso meu turbilhão
Repouso o meu cansaço
Revivo todo meu desejo
No rebojo desse impulso
Ofereço o remanso de meu ventre
Para que tua voragem
Se complete em meu caminho
Juntos seguimos as trilhas
esboçadas pela vida
nos atalhos de um seguir
que nos torna apenas um
Quando vens eu te recebo
Na intensidade da entrega
e riscamos, enfim, juntos,
o mapa de nossa paixão.

(Imagem: banco de imagens Google)

Da série “Foi poeta, sonhou e amou na vida” – 20 – Augusto dos Anjos

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, conhecido como Augusto dos Anjos (1884-1914), nascido no engenho “Pau d’Arco”, na Paraíba, foi um poeta brasileiro, considerado um dos poetas mais críticos de sua época. Foi identificado como o mais importante poeta do pré-modernismo, embora revele em sua poesia, raízes do simbolismo, retratando o gosto pela morte, a angústia e o uso de metáforas.

Declarou-se “Cantor da poesia de tudo que é morto”. Durante muito tempo foi ignorado pela crítica, que julgou seu vocabulário mórbido e vulgar. Sua obra poética, está resumida em um único livro “EU”, publicado em 1912, e reeditado com o nome “Eu e Outros Poemas”.

Recebeu do pai, formado em Direito, as primeiras instruções. No ano de 1900, ingressou no Liceu Paraibano e nessa época compôs seu primeiro soneto, “Saudade”.

Augusto dos Anjos estudou na Faculdade de Direito do Recife entre 1903 e 1907. Formado em Direito, retornou para João Pessoa, capital da Paraíba, onde passou a lecionar Literatura Brasileira, em aulas particulares.

Em 1908 casa-se com Ester Fialho e muda-se para o Rio de Janeiro, depois que sua família vendeu o engenho Pau d’Arco.

No Rio de Janeiro, Augusto dos Anjos lecionou literatura em diversos cursinhos. Lecionou Geografia na Escola Normal, depois no Instituto de Educação e no Ginásio Nacional. Em 1911 foi nomeado professor de Geografia, no Colégio Pedro II. Durante esse período, publicou vários poemas em jornais e periódicos.

Em 1912, Augusto dos Anjos publicou seu único livro “EU”, com 58 poemas, que chocou pela agressividade do vocabulário e por sua obsessão pela morte.

Integram à sua linguagem termos considerados antipoéticos, como “podridão da carne”, “cadáveres fétidos” e “vermes famintos”. Como também por sua retórica delirante, por vezes criativa, por vezes absurda, como no poema Psicologia de um vencido.

Embora contemporâneo da geração simbolista, Augusto dos Anjos permaneceu à margem da escola. Sua obra apresenta na verdade uma experiência única na literatura universal: a união do Simbolismo com o cientificismo naturalista.

Por isso, dado o caráter sincrético de sua poesia, está situado entre o grupo Pré-modernista. Sua poesia anti-lírica, abriu a discussão sobre os conceitos de “boa poesia”, mas preparou o terreno para a grande renovação modernista. Em 1919, sua única obra foi reeditada como: “Eu e Outras Poesias”.

Em 1913, Augusto dos Anjos mudou-se para Leopoldina, Minas Gerais, onde assumiu a direção do Grupo Escolar Ribeiro Junqueira. Continuou também a dar aulas particulares. Em 1914, depois de uma longa gripe, Augusto dos Anjos foi acometido de uma pneumonia, falecendo naquela localidade aos 12 de novembro de 1914.

(Fonte ebiografia)

VERSOS ÍNTIMOS

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

PSICOLOGIA DE UM VENCIDO

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro da escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – esse operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Desespero (Memória)

Não, não é sobre viver. Mas sobre como sobreviver.

Quando todas as portas se fecharam, o escuro e o silêncio se fizeram a seu redor, e você, paralisado, já não tem para onde ir.

Você poderia estar, alegremente, buscando um novo imóvel para se mudar e começar uma nova vida.

Mas você se surpreende entrando em uma agência funerária e escolhendo uma urna para suas cinzas.

Você poderia estar planejando uma nova viagem, nova aventura, novo viver. Mas apenas marcou na agenda uma data limite para suportar o peso da vida. E essa data se aproxima a passos largos. Você não tem saída. Sabe quando e onde. Mas ainda precisa decidir o como.

Você poderia estar comprando novas roupas, novos livros, fazendo planos. Mas está esvaziando os armários, doando para obras de caridade, bibliotecas públicas, porque nada mais será necessário.

Você poderia estar planejando uma nova vida. Mas só consegue planejar a morte.

Você poderia estar escrevendo, neste momento, um post apaixonado. Mas faz mais sentido escrever seu testamento.

Isso tem nome. Isso machuca. Isso dói.

Isso é mais do que desespero – isso é desesperança.

(Imagem: banco de imagens Google)

Poesia da casa – Distância

Eu acreditava que distância era substantivo abstrato.
E que saudade também fosse algo abstrato.
Mas descobri que distância e saudade podem ser concretas.
Existem, machucam e causam dor.
Trópicos, rios, florestas e o tempo nos distanciaram, 
mas nada disso conseguiu nos separar.
Deito agora nessa rede na varanda e olho para o céu:
o sol que me iluminou nesse dia é o mesmo que agora te aquece.
A lua que não vejo mas sei existir talvez esta noite brilhará para você.
As estrelas que aqui eu vejo serão as mesmas que você verá.
Respiramos o mesmo ar. O mesmo céu nos cobre.
Essa saudade que me sufoca e umedece os  meus olhos
é a mesma que te traga e te incomoda.
É tão grande, tão intensa, que sinto poder tocá-la.
Ela existe, mora comigo, está em mim.
E toda essa distância, tão medida, tão concreta,
não nos pode separar nem trouxe esquecimento.
Nossos pensamentos nos levam um ao outro
e assim, juntos na distância, unidos na saudade,
esperamos pelo momento mágico de um reencontro.
Que virá. Que virá...

(Imagem: banco de imagens Google)

Texto apócrifo

Tenho que confessar que sou louca. Completamente louca. Mudo de humor 24 horas, e nem venha me dizer que isso é bipolaridade, porque não é.

É porque sou mulher mesmo.

Tem horas que dá uma vontade de rir pencas, e passa alguns minutos já quero chorar rios.

As vezes quero estar na multidão, e outras vezes só quero meu travesseiro como companhia.

Tem dias que bate aquela vontade de falar, gritar, berrar tudo que está entalado aqui dentro, e outros dias só quero ouvir o barulho do silêncio.

Somos complicadas, mal interpretadas, exageradas, dramáticas e não posso esquecer do “loucas”.

Mas é o que eu sempre digo, quem passa nessa vida sem deixar um rastro de loucura, definitivamente nunca foi feliz.

E até podemos ser taxadas de loucas, mas admitam, sem nossas loucuras, ainda estaríamos na idade média.

(Desconheço a autoria – da página “Pedaços de mim”)