Olegário Mariano (Olegário Mariano Carneiro da Cunha), poeta, político e diplomata, nasceu no Recife, PE, em 24 de março de 1889, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de novembro de 1958.

Era filho de José Mariano Carneiro da Cunha, herói pernambucano da Abolição e da República, e de Olegária Carneiro da Cunha. Fez o primário e o secundário no Colégio Pestalozzi, na sua cidade natal, e cedo se transferiu para o Rio de Janeiro. Frequentou a roda literária de Olavo Bilac, Guimarães Passos, Emílio de Meneses, Coelho Neto, Martins Fontes e outros. Estreou na vida literária aos 22 anos com o volume Angelus, em 1911. Sua poesia falava de neblinas, de cismas e de sofrimentos, perfeitamente identificada com os preceitos do Simbolismo, já em declínio.
Foi inspetor do ensino secundário e censor de teatro. Representou o Brasil, em 1918, como secretário de embaixada na Bolívia, na Missão Melo Franco. Foi deputado à Assembleia Constituinte que elaborou a Carta de 1934. Em 1937, ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados. Foi ministro plenipotenciário nos terceiro centenário da Restauração de Portugal, em 1940; delegado da Academia Brasileira na Conferência Interacadêmica de Lisboa para o Acordo Ortográfico de 1945; embaixador do Brasil em Portugal em 1953-54. Exerceu o cargo de oficial do 4º Ofício de Registro de Imóveis, no Rio de Janeiro, tendo sido antes tabelião de Notas.

Em concurso promovido pela revista Fon-Fon, em 1938, Olegário Mariano foi eleito, pelos intelectuais de todo o Brasil, Príncipe dos Poetas Brasileiros, em substituição a Alberto de Oliveira, detentor do título depois da morte de Olavo Bilac, o primeiro a obtê-lo.
Além da obra poética editada em livros a partir de 1911, e enfeixada nos dois volumes de Toda uma vida de poesia (1957), publicados pela José Olímpio, Olegário Mariano publicou, durante anos, nas revistas Careta e Para Todos, sob o pseudônimo de João da Avenida, uma seção de crônicas mundanas em versos humorísticos, mais tarde reunidas em dois livros: Bataclan e Vida, caixa de brinquedos.

Sua poesia lírica é simples, correntia, de fundo romântico, pertinente à fase do sincretismo parnasiano-simbolista de transição para o Modernismo. Ficou conhecido como o “poeta das cigarras”, por causa de um de seus temas prediletos. (Fonte: Academia Brasileira de Letras)

A ovelha tesmalhada
A noite abriu, em céu estranho, para adorá-las e querê-las, um turbilhão tonto de estrelas, lindas ovelhas de um rebanho. O luar — pastor lírico, em breve, surge e, apontando o seu cajado, vai por montes e colinas de neve guiando o rebanho mágico e doirado... Mas uma ovelha tresmalhada perdeu-se. O luar, em cólera, se espelha: — Onde andará aquela ovelha de olhos verdes, a mais amada, de boca a mais vermelha? “Onde andará?...” De serra em serra: “Onde andará?...” Ansioso, avança, como um doido pelas alturas... E ela tranquila, aqui na terra, com o nome lindo de Esperança iludindo e matando as criaturas... A cigarra morta Ontem, Cigarra, quando veio a aurora, acordei a vibrar com a tua vinda. A tua voz tinha, de espaço fora, notas tão claras que eu a escuto ainda. Glorificando a luz consoladora, cantaste, e enfim tua cantiga é finda. Tenho nas minhas mãos, inerte agora, teu corpo cor de mel. Cigarra linda. Foste feliz, porque te deram esta garganta de ouro. Assim, de palma em palma, passou, num sonho, a tua Vida honesta... Vendo-te, os meus sentidos se levantam, esperando a cantiga de tua alma, que as almas das Cigarras também cantam...