A noite chega com seus mistérios. Para alguns a noite “desce”. Não sei se ela estava no alto, esperando o horário para descer… Outros dizem “cai” a noite… será que ela ainda existiria se caísse todos os finais de tarde desde que o mundo existe?
De onde vem a noite?
Aos poucos ela vai mudando as cores do dia, esmaecendo as luzes, afastando o sol, até tomar conta de tudo.
A transição entre o dia e a noite – a linda e poética “hora crepuscular” – fascina.
A noite, para nós, é curta, porque a usamos para dormir. Não a vemos. Não a vivemos.
Mas eu já a vivi intensamente.
Às vezes sinto saudade de tempos passados, quando era possível sair em São Paulo por volta de 21h00, de carro, e ir em vários bares, até amanhecer o dia seguinte. Vida leve. Vida boa. Que não voltará jamais.
Agora, o silêncio da noite, quebrado unicamente pelo incessante cantar do mar, me ajuda a adormecer.
Sobre o escuro mar noturno, dezenas de luzes dos navios fundeados. O único sinal de vida que posso visualizar.
Fico a ouvir o mar e esperar que algumas estrelas venham enfeitar o céu.
A alternância impassível entre dia-e-noite escancara meu envelhecimento. Quantas noites já tive em minha vida?
Seguramente mais de vinte mil.
Se o anoitecer aqui na praia é lindo, não menos maravilhoso era o anoitecer no sítio, numa montanha da Mantiqueira. Em noites de lua cheia eu ficava na varanda, vendo o pasto se pratear ao luar e aproveitava cada minuto daquele alumbramento.
E todos os dias da minha vida terminaram em um anoitecer. Assim como minha vida, onde também já anoitece.