O príncipe e o menino

– Tio, você sabe que lugar é esse?
– Não seja impertinente garoto! Não sou seu tio!
– O que é “ impetinente”?
– É impertinente que se fala. Incômodo, aborrecido, ou como vocês dizem, chato.
– Desculpa, não quis incomodar. O senhor sabe que lugar é esse?
– Não. Parece ser uma sala de espera. Veja, aquele portão grande ali, fechado. Acho que alguém vira abrir e nos explicar como viemos aqui. Só lembro de estar dormindo e acordar aqui.
– Eu também! Fui deitar, estava com dores e cansado e acordei aqui. Já não sinto mais nada. Será que é um hospital? Tudo tão branco, tão limpo… mas o senhor faz o que?
– Eu sou um Príncipe.
– Nossa, eu nunca vi um de verdade. Só nos livros. Meu pai diz que eu sou um príncipe também, mas não de verdade né?
– Sim. O que teu pai diz é verdade! Toda criança é um príncipe ou princesa para seu pai. Então você é o príncipe dele.
– Mas não do meu padrasto. Ele diz que não gosta de mim, ele me bate e diz que se eu falar pra minha mãe ela também não vai gostar de mim.
– Seu pai não te protege?
– Ele não pode, ele e minha mãe são separados. Ele me abraça quando estamos juntos, mas não é sempre. O senhor abraça teus filhos?
– Muito menos do que gostaria. Príncipes tem protocolos, obrigações…
– Deve ser chato né? Mas aqui só estamos nós dois. O Senhor poderia me abraçar? Tenho medo…
– Claro! Venha aqui. Como você se chama?
– Henry.
– Henry? Bonito nome. Tenho um neto com esse nome! Um pouco rebelde, mas um bom homem…
– E o senhor? Como se chama?
– Felipe. Pode me chamar de tio se quiser.
– Olha tio! O portão abriu! Tem uma luz bonita lá dentro! Vamos?
– Vamos menino, vamos lá até a Luz…
Gosto de imaginar que possa ter sido assim, num Reino muito, muito distante; em uma dimensão longe daqui…