Poesia da casa – Na minha partida

O isolamento social dos bolsonaristas: cortar todas as conexões com os  agentes da morte - DAGOBAH

Um dia chegará minha vez de partir.

Quando a Ceifeira vier para me buscar,

Pedirei que me dê um minuto a mais.

Um singelo minuto apenas.

E nesse minuto reviverei tanta coisa

Eu me lembrarei das – poucas – alegrias

E das tantas tristezas que um dia conheci.

Levantarei os véus das pesadas mágoas

E perdoarei todos aqueles que as provocaram.

Não quero levar nada comigo.

Deixarei tudo aqui.

Ela me olhará aflita porque estou demorando

E eu direi: – um minuto apenas, um minuto!

E abençoarei todos os que se preocuparam comigo

E um dia me fizeram feliz de alguma forma

E pedirei que o Pai perdoe e abençoe aqueles que

Me feriram sem se importar com meus sentimentos.

E me despirei das vaidades acumuladas neste mundo,

Para seguir sem bagagem, sem peso, sem lembranças.

Quando ela, impaciente, cobrar minha rápida partida

Eu direi: – um minuto, eu só lhe pedi um minuto!

E abraçarei minha mãe e meu pai

E meus irmãos e minhas irmãs

E direi: – não sofram – vocês me fizeram feliz!

Eu apenas parto antes de todos e os esperarei

E prepararei a chegada de cada um no momento

Certo de partirem para o lado de lá.

Impaciente, ela baterá o cabo da foice contra o chão

E dirá: – vamos, você está demorando muito

E eu direi: – você me deu um minuto de prazo, espere!

E então irei me despedir do meu amor,

Para que não sofra com minha falta e seja feliz;

Direi que parto em paz por ter sido amada e que

Seu olhar me ajudará a atravessar o espelho

E me dará coragem para não sentir medo, e ainda que

A lembrança do seu amor me guiará do outro lado.

Então, chegado o momento, olharei de frente

Para essa indesejada e inevitável pessoa e direi:

– Estou pronta, vamos lá!

E, em paz, eu partirei…