
Não vi como essa tempestade começou. Nunca consigo ver de onde vêm os temporais. Estava distraída, cochilando, talvez dormindo. Só sei que aquela brisa, aquele ventinho gostoso que diminuiu o calor, subitamente transformou-se em violento vendaval. E o céu se abriu, e a chuva caiu com força, muita força.
Portas e janelas precisam ser fechadas, não há a menor condição de se sair de casa. Tudo voa lá fora com a força do vento. Árvores caem.
Não tenho como abrandar o vento. Não tenho como amainar a chuva. Então trato de acalmar minhas emoções, esperar a tempestade acabar e seguir a vida.
Em algum momento a tempestade se cansará de causar tantos estragos e se irá. Para onde? Não sei. Provavelmente para algum lugar onde havia ordem e beleza, para o qual levará o caos e a destruição. É sua sina, é sua missão. Para isso surgem as tempestades.
Ouço o rugido do vento – poderoso, destruidor. Escuto o barulho da chuva – não a chuva mansa que lava o ar, mas a borrasca. Penso na minha vida. Quantas tormentas, vendavais, aguaceiros, raios e trovões já enfrentei…
E, em todas as ocasiões, impotente em minha humana fragilidade, apenas abaixei a cabeça para esperar que tudo passasse, na firme certeza da bonança que viria.
Isso que mantém o fio da vida preso a nós: mesmo nas piores tempestades, a fé na calmaria que há de vir.
Em dias de tempestade não há sol. Em noites de tempestades não há lua. Em vidas atormentadas não há amor nem paixão…
E agora, quando a tempestade começa a enfraquecer, eu me preparo para voltar à vida. Ainda que meu jardim esteja destruído, as pétalas das flores arrancadas formarão um lindo tapete que me apontará para onde deverei seguir.