No dia dos pais

Um dia, disse Guimarães Rosa: “Não gosto de passarinho. Não gosto de violão. Não gosto de nada que põe saudades na gente.”

Eu sempre amei passarinho. Fui criadora oficial. Além dos “meus”, sempre os busquei livres na natureza, encantada com seu voo – quanta liberdade! – e plumagem, e canto, e tudo.

Hoje, domingo, meu terceiro Dia dos Pais depois de órfã, acordei com o canto dos passarinhos.

Havia um que eu não conseguia identificar. E me lembrei do meu pai, e me lembrei de Guimarães Rosa, e minha orfandade doeu de forma ainda mais doída.

Passei não só a infância, mas a vida, pedindo a meu pai que me dissesse que pássaro estava cantando – e ele os sabia todos.

Ouvia um pouquinho e identificava.

Assim fui aprendendo, eu também, a identificar os pássaros invisíveis na natureza pelo canto.

Um dia – o dia marcado pelo Pai, o dia certo para ele, mas muito cedo para mim, ele partiu. E me vi, naquela manhã, órfã. E desde então sinto falta de algo no mundo, na vida, um vazio que nada preencherá jamais.

É o lugar do meu pai no meu mundo e na minha vida.

E ele faz essa falta nas grandes e pequenas coisas. Quantas vezes preciso de uma opinião (que ele só externava se buscada, nunca deu “palpite” na vida dos filhos), de uma orientação, de uma mão firme para atravessar um perigo, de um interlocutor para conversar sobre tudo e sobre nada, e, ainda, alguém para me dizer o gosto das comidas, os cuidados com o carro, ou que pássaro está cantando e de onde vem o canto, quando não visualizo a ave que canta…

Não tenho mais meu pai. E tudo isso acabou.

Hoje é Dia dos Pais. Era um dia santificado para mim. Fazia qualquer sacrifício para estar com meu pai nesse dia. Agora estou sozinha. O Dia dos Pais continua, mas não tenho mais meu pai.

E isso é muito triste.

A saudade dele é imensa, indescritível.

E, nesse amanhecer, tão triste, quando ouvi os pássaros cantando, e principalmente quando não identifiquei um deles, entendi plenamente a frase de Guimarães Rosa – esse passarinho pôs mais saudade em meu coração.