
Ele partiu. Tão doce e suavemente como viveu.
Há muitos anos, tornei-me sua estagiária. E instantaneamente ele se tornou meu ídolo – Promotor de Justiça, sério, dedicado, idealista, era tudo o que eu queria ser também.
Ele me guiou. Com paciência de santo e amor de pai, foi me preparando para ser uma Promotora de Justiça.
Eu, em minha mesinha ao lado de sua grande mesa, sentada a sua direita no gabinete do Fórum em Presidente Prudente, mês após mês, fomos nos tornando amigos. Ele era leve, engraçado, cheio de histórias para contar. Era professor na Faculdade de Direito e exercia essa função comigo, ensinando tudo o que eu precisava aprender para trabalhar ali e me preparar para o concurso.
Levou-me para sua casa. Sua esposa – minha querida dona Glória – acolheu-me com amor. Uma grande amizade floresceu. Tornaram-se meus padrinhos.
Foram décadas de convivência, algumas festas, viagens, conversas sérias e nem tão sérias. Muitas risadas. Algumas lágrimas. Muitos abraços e muito amor.
Ontem eu fui até lá para vê-lo. Ele não me viu. Mas sei que me ouviu. Ainda tive a alegria de ficar um pouco com ele.
Mas, antes que hoje amanhecesse, ele se foi. Cercado pela esposa, filhos e netos.
Pela segunda vez em um mês de maio eu me vi órfã. Há três anos meu pai nos deixou. Hoje foi a vez de meu padrinho, meu segundo pai. Agora estou definitivamente órfã de pai.
A dor é grande. Sei que sentirei falta de sua alegria, seus conselhos, suas observações… e de todo aquele carinho que ele sempre teve comigo.
Um dia estaremos novamente todos juntos, uma só grande família, ainda que em outro plano. Uma vida só foi pouco para tanto amor.
(Imagem: foto pessoal do arquivo de Maria Alice)