A harpa e seu lamento retido em nervos de metal dourado,
Tão suave instrumento ressonante ou delgado,
Buscam, ó solidão, teu reino gélido. (Garcia Lorca)

Como definir a solidão, se não é igual para todos? É o que de mais relativo existe neste universo.
Para os poetas é inspiração, para os amantes – se juntos é o ideal, se separados é desespero, para crianças é medo, para tantos adultos é tranquilidade ou angústia…
A cada fase da vida a solidão se transforma, adota outros significados.
Um bebê deixado sozinho fatalmente morrerá. A cada vez que não visualiza o rosto da mãe o bebê chora porque não tem noção de tempo nem distância e encara a solidão momentânea como total e definitivo abandono.
Nos primeiros anos da vida a solidão se transforma em medo – medo do escuro, medo do desconhecido, medo da noite…
Conforme vai crescendo vai aprendendo a dominar seus medos – especialmente os medos abstratos – para mostrar maturidade. Ninguém é ridicularizado se mostra medo de uma serpente, mas se disser que tem medo da noite vira motivo de infinitas gozações…
E na idade adulta esses medos têm que ser controlados. Aí a grande arte de viver.
O medo da própria vida geralmente se transmuda em timidez. Cada medo vai encontrando uma forma de se encaixar na realidade. E saber lidar com essa gama de emoções se torna essencial para a convivência.
E o medo da solidão mais cedo ou mais tarde aparece para todos. Vencê-lo é o desafio. Ou conviver com ele e fazer da solidão uma aliada da jornada terrena.
Quem é mais solitário, o filho que fecha a porta do quarto e ali permanece horas ou dias inteiros ou a mãe, que não tem essa escolha e continua nas lides domésticas, fazendo o trabalho invisível, que é feito exatamente para ser desfeito em seguida?
O defunto que é enterrado sozinho em sua caixa de madeira enfeitada ou a viúva, que terá que continuar viva, caminhando sozinha na vida depois de tantos anos de companheirismo?
A irmã que chora ao se despedir da irmã que vai embora para sempre do país ou essa que vai enfrentar o desconhecido em outras terras?
Todos são igualmente solitários.
E a pior de todas as solidões, sem dúvida, é a solidão cotidiana, dentro do grupo em que se convive.
Solidão em família, solidão entre amigos, solidão no ambiente de trabalho.
Todos passam, em algum momento da vida, por solidão. Doída, aguda, insuportável, porém inevitável.
E surpreendentemente, muitos conseguem lidar de forma extraordinária com a solidão, fazendo dela uma grande aliada, a melhor companheira.
E são felizes sozinhos, a companhia de outro ser humano, eventual, passageira, chega até a incomodar, porque se sentem melhor sozinhos…
Se a solidão é opção se transforma mesmo em felicidade.
E equilibrar tudo isso é a maneira de se viver em paz: não se desesperar com tempos de solidão e dar valor às pessoas com as quais se convive – momentânea ou permanentemente.
(Foto de Maria Alice)