“Que a família comece e termine sabendo onde vai / E que o homem carregue nos ombros a graça de um pai
Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor / E que os filhos conheçam a força que brota do amor!”
Pe. Zezinho
Um cronista de A Tribuna, no sábado, escreveu sobre A mesa da sala de jantar.
Ao mesmo tempo em que se recorda da grande mesa da casa onde viveu sua família, na espaçosa sala de jantar, que ocupava toda a largura da casa, compara com o tempo presente, em que os modernos imóveis já nem dispõem desse cômodo e muitos já nem destinam espaço a uma singela mesa de refeições.
Seja porque já quase não se cozinha em casa, seja porque cada membro da família faz o próprio prato e vai comer em algum canto – sala de tv, quarto etc.
Com tristeza concordo com Alcindo Gonçalves, o cronista.
Mil pensamentos surgem dessa leitura.
Onde estão as famílias de hoje, que não se reúnem?
Ou, caso o façam, onde se reúnem?
Diante da TV, todos em silêncio, sem convivência, mirandio uma telinha que mostra um mundo virtual, desmoralizado, violento, desregrado?
Ou segurando joysticks – manetes, em português?
Ou nem ficam juntos, cada qual fica confinado em um quarto, onde dispõe da própria tv, e do próprio computador, e assim nem precisa olhar para o rosto dos demais ocupantes da mesma casa? Porque isso não é uma família.
Mantenho – mesmo morando atualmente em um apartamento – três mesas para refeições – uma mesinha fixa, mais informal, na cozinha, para café da manhã e lanches, quando estamos sozinhos, somente os dois, o que ocorre na maioria do tempo.
Uma sala de jantar (partilhando ambiente com a sala de estar – em apartamentos não há o luxo de um ambiente solene para a sala de jantar isolada) e ainda uma mesa na sacada – ali já almoçamos e jantamos com visitas, ali sirvo a refeição nas noites sem chuva do verão, e muitos cafés da manhã, diante do esplendor do mar e da praia em manhãs ensolaradas.
Não saberia viver sem uma mesa em redor da qual a família pudesse se reunir.
Na casa de meus pais há uma grande mesa – daquelas que ainda fica maior, a chamada mesa elástica – que mesmo assim já não comporta toda a família, que cresce a cada dia – mas em torno da qual ainda nos sentamos para as refeições – meu pai na cabeceira, patriarca que é, minha mãe a sua direita…
Lembro-me da mesa da casa de minha avó paterna – Alice também, de quem herdei mais que o nome, o prazer de reunir a família em torno de uma mesa bem farta – mesa esta que hoje guarnece a residência de minha prima Teresa, na distante Floripa.
Quanto frango, quanta polenta, quanto macarrão comemos sentados ao redor da mesa da casa da vó Alice, avós, filhos, noras e genros, netos e mesmo os primeiros bisnetos.
As refeições dominicais – variedade de saladas, massas e carnes, tudo preparado pelas hábeis e prendadas mãos de minha avó, coroadas com doces caseiros – que se estendiam por horas, entre conversas, lembranças, risadas, e muito, muito amor.
Minha a minha avó se foi, logo depois de meu avô e sua casa se acabou (embora, como Manuel Bandeira, nunca pensei que um dia se acabasse).
Tempos depois meu padrinho se foi.
Continuamos a nos reunir principalmente na casa de minha mãe e na casa de tia Adorama.
Chegou nossa geração, embora muitos em cidades distantes, consegui reunir parte da família em minha casa, quando ainda morava no interior, e Yara, minha prima, ainda o faz – e muito bem – em sua casa em Ribeirão Preto.
Agora tio Ary se foi.
Lugares se abrem ao redor da mesa.
Mas vejo que o Pai nos permite preenchê-los com nossas crianças que vêm para completar a família.
Somos, portanto, uma família que se reúne em volta da mesa, herança de Cristo, que nos ensinou a partilha do pão e do amor.
O que será dessa humanidade, quando não mais tiver sequer uma mesa para se reunir em casa? Não será mais um lar, mas, simplesmente, uma casa ou um mero abrigo…
(22.06.2010)